13 março 2013

Cenário indefinido

Em 2014 muita coisa pode acontecer inclusive nada
Luciano Siqueira

Publicado no Blog da Folha

Ao mesmo tempo em que se questiona uma hipotética antecipação da sucessão presidencial, cobra-se de partidos e personalidades influentes definições imediatas. A incoerência reside no fato de que há uma distância real entre a especulação e a realidade concreta; ou, dito de outro modo, entre vontades explícitas ou veladas e as possibilidades objetivas, que ficarão claras ou não apenas nos primeiros meses do ano que vem.

Infelizmente, aos apressados resta incorporar aos seus espíritos uma boa dose de paciência; e aos analistas de todos os naipes, um pouco de atenção à evolução natural da cena política. Literalmente é impossível botar o carro adiante dos bois, salvo sob o risco de mudança de rumo, brusca e indesejável, quando o campo da luta ganhar seus contornos definitivos.

Ora, todo o noticiário pró-borramento do quadro sucessório conta com a existência de quatro o cinco candidaturas de oposição, dentre as quais uma possível dissidência do bloco governista atual. Estratégias são formuladas a partir dessa hipótese, a que se agrega a torcida explícita e desavergonhada para que a economia vá mal e que a maioria dos brasileiros retorne à situação anterior – da chamada era FHC anos atrás – onde a exclusão do processo produtivo e do mercado de consumo era a tônica.

E se vierem a se confirmar expectativas positivas em relação ao desempenho da economia, agora em ambiente macroeconômico mais propício a investimentos produtivos e sem nenhum dado novo que conspire contra a expansão da cobertura dos programas sociais inclusivos?

Nesse caso, nem a oposição respiraria ares promissores, como no instante presente, nem se consumaria, creio, dissensões importantes na ampla coalizão partidária reunida em torno da presidenta Dilma.

Isso não quer dizer que o sonhado (pelas oposições) cenário de relativa dispersão e de múltiplas candidaturas anti-Dilma não venha a se configurar, nem que o governo possa enfrentar transtornos e atropelos que criem dificuldades à reeleição da presidenta. Pode – mas será necessário que as forças que remam contra a maré atrapalhem muito mais do que têm tentado atrapalhar e que o governo abara do correto rumo que segue.

Portanto, é cedo para que manobras, conjecturas e desejos se cristalizem como fato.

Nesse cenário em formação, partidos que tenham os pés no chão e lideranças ciosas de suas potencialidades e missões futuras, têm mesmo é que participar da roda viva especulativa, ouvir mais do que falar e guardar suas conclusões para um tempo futuro, quando a luz do dia deixará claro quem é quem e os trunfos de cada um.

Em 2014, tudo pode acontecer, inclusive a ocupação de novos lugares na grande cena política por novos atores; ou simplesmente nada diferente de agora: Dilma apoiada por cerca de quatorze partidos versus oposições fracionadas e sem propostas nem rumo.

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