Luciano Siqueira
Ninguém governa com o parlamento que quer – nem escolhe
deputados e senadores, quem os escolhe é o eleitorado. Tão obvio quanto a luz
do dia - menos para quem teima em analisar o evolver da cena política tão
somente a partir de supostas motivações e atributos individuais. No caso, da
presidenta Dilma – acusada de leniência no trato com sua base partidária e
parlamentar; e de lideres de bancadas governistas - supostamente incapazes de
controlar seus liderados.
Esta semana, noticiou-se a advertência dos
presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara dos Deputados,
Henrique Alves (PMDB-RN), em audiência com a presidenta da República, sobre o
risco de rebelião da base governista no Congresso, com implicações na eleição
de 2014. Segundo eles, os peemedebistas estariam se sentindo marginalizados das
decisões do governo e tenderiam a priorizar, daqui por diante, seus projetos
estaduais. Para complicar, em suas aldeias também se queixam da ausência de reciprocidade
por parte do PT, hegemônico no governo central.
Ora, além de dirigir o Congresso Nacional, o PMDB
tem o vice-presidente da República, toca cinco ministérios e ostenta maioria
nas duas casas legislativas. Governa cinco estados e duas capitais e expressivo
número de cidades médias e grandes. Por isso mesmo figura com destaque no arco
da aliança governista.
Tamanha força, entretanto, se expressa de modo
dúbio. Partido de centro, oscila entre o apoio ao governo e a adoção de
atitudes tipicamente oposicionistas; formado por verdadeiro mosaico de grupos
regionais, tende naturalmente a priorizar interesses provincianos em detrimento
de compromissos nacionais. Daí não ser um aliado fácil. É governo, mas ao mesmo
tempo impõe dificuldades – e penosa negociação – a cada matéria de maior
relevância que tramita no Congresso.
Demais, o peso específico do PMDB se faz mais
saliente ainda quando se examina todo o espectro partidário governista,
determinando uma correlação de forças “interna” que confere à base de apoio da
presidenta matizes mais conservadores do que progressistas. Dilma realiza um
governo democrático, comprometido com o povo e a Nação, empenhado em avançar
nas mudanças que interessam à maioria, porém parcialmente inibido pela força
das correntes conservadoras nas quais obrigatoriamente tem que se apoiar, sob pena
de perda da governabilidade. PT, PSB, PCdoB e PDT, que em tese poderiam constituir
um núcleo mais à esquerda que ajudasse o governo a dar passos mais ousados, não
somam, juntos, quantidade de parlamentares suficiente para se sobreporem aos
governistas mais conservadores.
Este é o parlamento real, fruto das escolhas do
imenso e complexo eleitorado brasileiro; que reflete as contradições, as virtudes
e os defeitos de nossa sociedade. Que não pode ser melhor em razão dos limites atuais
do nível de consciência e de organização do nosso povo.
Eis a questão nodal, que extrapola em muito os humores
e as habilidades da presidenta e o grau de competência dos líderes das bancadas
governistas.
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