Dinheiro não é cem por cento
Luciano Siqueira, no Jornal da Besta Fubana
É do irreverente Falcão a
aparentemente óbvia descoberta de “que dinheiro não é tudo, mas é 100%”.
Mas não é bem assim, a julgar
pela taxa de infelicidade pessoal de muita gente rica por aí. Ou seja, a vida
pede muito mais do que o altissonante metal em nosso bolso. Ou na conta
bancária.
Por isso um amigo costuma dizer
que se pudesse contrataria os maiores cientistas de todo o mundo só para
estudar a natureza humana. Bicho complicado é gente, diz ele.
Pois a Victoria University of Wellington, da Nova Zelândia, realizou uma
pesquisa que vem ao encontro da curiosidade do amigo e contraria a assertiva do
cantor/humorista cearense. Liberdade conta mais do que dinheiro para ser feliz, concluem os
cientistas.
Leio isso no portal Ig
com a sensação de que os neozelandeses nada mais fizeram do que constatar o
óbvio: "dinheiro leva à autonomia, mas sozinho não acrescenta bem-estar ou
felicidade”. Independência
pessoal e liberdade são mais importantes para o bem-estar do que riqueza,
assinalam.
De toda sorte, cabe respeitar a pesquisa,
que examinou dados de três estudos compreendendo entrevistas de mais de 420 mil
pessoas em 63 países, ao longo de quase 40 anos.
Ainda segundo o Ig, foram usados três testes
psicológicos que esquadrinham a alma dos pesquisados: o questionário de saúde
geral - que mede ansiedade, insônia, problemas sociais, depressão severa e
sintomas físicos de problemas mentais, como dores de cabeça inexplicadas e
dores de estômago -, o teste de Spielberger, que avalia a ansiedade naquele
momento, e o Maslach Burnout Inventory, que diagnostica exaustão emocional,
despersonalização e falta de conquista pessoal.
Com essa bateria, o detalhamento da pesquisa
deve dizer muitas outras coisas igualmente relevantes.
Confesso que, mesmo interessado, daqui a
alguns minutos já não procurarei saber mais. Tenho muito que fazer.
Mas bem que gostaria de perguntar aos psicólogos
Ronald Fischer e Diana Boer – citados como porta-vozes do grupo de
pesquisadores – porque em suas conclusões não há nenhuma referência ao amor. Será
que esse sentimento tão universal está em baixa entre os habitantes dos tais 63
países que formam a amostragem?
Talvez os brasileiros não tenham sido
pesquisados. Porque aqui sem amor a gente não vai a lugar nenhum. Como ensina o
poeta Drummond, “que pode uma criatura senão,/entre criaturas,
amar?/amar e esquecer, amar e malamar,/amar, desamar, amar?/sempre, e até de
olhos vidrados, amar?/Que pode, pergunto, o ser amoroso,sozinho, em rotação
universal, senão/rodar também, e amar?”
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