27 julho 2015

Uma crônica para descontrair

Quem é quem diante do espelho?

Luciano Siqueira

Espelho em elevador dá nisso: a exposição da vaidade humana, pois é muito comum aquele olhar, de soslaio ou desinibido, para conferir a própria imagem.
Outro dia no prédio onde funciona o meu escritório político testemunhei a crise de identidade, ou de autoimagem, de uma jovem adolescente que foi do térreo ao décimo segundo andar mirando a si mesma, ajeitando com leves toques o penteado, ora acolhendo os cabelos revoltos com as duas mãos em concha, ora os assanhando novamente com as pontas dos dedos. Observada por mim e mais uns três colegas de viagem, não estava nem aí. Quem quer cultivar a própria beleza não pode se importar com o que pensam os que lhe flagram em plena labuta.
No caso, uma bela jovem – morena, estatura mediana, olhos negros, cabelosencrespados e soltos à altura dos ombros, corpo bem distribuído. Uns dezessete anos. Insatisfeita, entretanto. Pois após mexer e remexer a cabeleira, meteu uma fita larga sobre as madeixas mais salientes e, num movimento brusco, prendeu tudo num feixe só, fez um leve muxoxo e ganhou o corredor a passos tímidos.
Essa coisa de autoimagem não é simples. Implica ciência e arte. Cada um que encontre os atributos nos quais se apoiará ao longo da vida para se aceitar a si mesmo, sejam quais forem suas referências culturais. Com a autoridade de haver conquistado o segundo lugar num improvisado concurso de feiura feito por companheiras do movimento estudantil, em 1968, no pátio da antiga Faculdade de Filosofia de Pernambuco, tenho cá minhas dicas.
Vejamos. Suponhamos que o leitor ou leitora não se considere favorecido pela natureza, não se enquadre nos padrões de beleza consagrados pelo vulgo. Melhor é não mexer muito na própria carcaça, adotando cabeleira exótica, tatuagens chamativas ou adereços extravagantes. Faça isso não. Como autoimagem não é coisa meramente individual, depende de como você imagina que as pessoas lhe olham – apreciando ou rejeitando -, nesse caso opte por alternativa mais sensata. Que tal compensar a feiura com uma boa dose de afeto, atenção e despojada solidariedade? Se puder somar alguma competência no que faz, melhor ainda.Vá em frente que por aí pode se dar bem. Nas relações amorosas, por exemplo. Vez por outra revistas de amenidades publicam pesquisas dando conta de que tanto mulheres como homens buscam num possível parceiro antes de tudo sensibilidade, cumplicidade, compreensão; em seguida prestam atenção às características físicas. Eis porque belas mulheres se apaixonam por homens feios e homens tidos como modelos gregos escolhem mulheres feias.
Daí chegamos à boa e sensata conclusão de que o peso do espelho é muito relativo na aferição de nossa autoimagem. Afinal, convenhamos, o que há de mais essencial entre os animais racionais nem sempre está à vista - brota da alma.
Feios e feias de minha terra, sejamos autoconfiantes e felizes!
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