A primeira derrota completa da
história dos Estados Unidos e a vitória da reunificação da pátria
vietnamita.
Por Pedro Oliveira*, no portal Vermelho
Angela Davis,
Jane Fonda (foto) e o beatle John Lennon, entre outros intelectuais e artistas
da época, participavam ativamente da campanha pelo fim da guerra
Numa pequena
sala de cinema situada na Praça Roosevelt, em São Paulo, cerca de 30 estudantes
da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP estavam reunidos esperando
o início da sessão. O ambiente de tensão era grande naquele período de
clandestinidade, em 1968. O filme havia sido enviado ao Brasil pela Frente de
Libertação Nacional vietnamita, relatando os ataques dos famigerados aviões
bombardeiros B-52 estadunidenses despejando bombas e o Agente Laranja – um
desfolhante que pretendia desvendar os movimentos dos guerrilheiros vietcongs
nas florestas próximas da trilha Ho Chi Minh.
Várias sessões
deste tipo foram realizadas divulgando a luta de libertação vietnamita e
levantando a bandeira do fim da guerra. Esta era uma das diversas formas de
luta pela paz que os estudantes brasileiros haviam abraçado. Assim como os
protestos contra a guerra ocorriam no Brasil, em muitos outros países o
movimento se espalhava e se ampliava. Especialmente nos Estados Unidos, várias
Universidades se transformaram em grandes praças de luta pela Paz. Angela
Davis, Jane Fonda e o beatle John Lennon, entre outros intelectuais e artistas
da época, participavam ativamente da campanha pelo fim da guerra.
Enfim, o dia
30 de abril de 1975 foi emblemático, quando os tanques da resistência
vietnamita cruzaram os portões do Palácio presidencial do Governo títere em
Saigon colocando um fim a quase 35 anos de guerra ininterrupta em que uma
pequena Nação de camponeses derrotava a potência tecnológica mais bem armada do
planeta. Na verdade, foi um golpe certeiro na política intervencionista do
Estados Unidos no mundo: dos 2 milhões e 700 mil soldados americanos que
passaram pelo Vietnã, 60 mil morreram e 300 mil foram feridos.
O fato
concreto é que a vitória vietnamita só foi possível pela articulação da luta
guerrilheira concreta do povo vietnamita nos campos de batalha do sudeste
asiático com a mobilização de corações e mentes de milhões pelo mundo afora
levantando bem alto a luta pela paz. Como tudo isso foi possível?
Sem dúvida foi
a obra de um heroico povo que durante séculos foi capaz de resistir a inúmeras
invasões de seu sagrado território. Várias incursões mongóis foram rechaçadas,
tentativas no mesmo sentido perpetradas por soldados chineses da Dinastia Ming
foram contidas, o processo de colonização francesa que durou mais de 80 anos
foi igualmente derrotado, assim como a ocupação japonesa durante a Segunda
Grande Guerra. Finalmente, a intervenção americana – que provocou a morte de
milhões de vietnamitas – foi vencida.
Desde a década
de 40 do século passado o líder inconteste da Revolução vietnamita assumiu seu
posto de comando nas selvas do norte do Vietnã, ao lado do general Nguyen Von
Giap. Ho Chi Minh foi capaz de conduzir o seu país por meio de uma concepção
teórica baseada no marxismo-leninismo. Para isso, Ho teve que contraditar
teoricamente o pensamento realista Eurocêntrico da era pós-Primeira Guerra
Mundial. Lutou, também, contra uma tendência revisionista que predominou no
movimento comunista internacional na primeira metade do século 20, que relegava
a um segundo plano a luta anticolonial. Depois foi protagonista principal da
Declaração de Independência do Vietnã, em 1954, em meio a profundas convulsões
mundiais que mudaram a face das relações entre as nações no período pós-Segunda
Guerra Mundial. O Vietnã foi a nação que soube manter seu país unificado de
norte a sul.
O tema da
Guerra do Vietnã continua extremamente atual nos debates das relações
internacionais. Recentemente, em seu último discurso sobre “State of the Union”
(12/1/2016) diante do Congresso dos Estados Unidos, o presidente
norte-americano, Barack Obama, disse que “não podemos assumir e reconstruir
cada país que entre em crise. Ser líder não é isso. Isso é uma maneira
garantida de cair em um atoleiro, desperdiçando sangue e dinheiro
norte-americanos. Essa é a lição do Vietnã e do Iraque, e já deveríamos tê-la
aprendido”. (Tradução da transcrição publicada pelo jornal The New York Times
do dia 13 de janeiro de 2016)
Dessa frase do
pronunciamento presidencial podemos inferir as concepções ainda vigentes no
pensamento norte-americano sobre as relações exteriores dos EUA. Primeiramente,
porque a ação do Exército estadunidense na Indochina se devia a outros
interesses estratégicos e não a qualquer questão de ajuda “humanitária” ou a
algum objetivo de cooperação internacional. E, em segundo lugar, já é de
domínio público quais foram as “razões de Estado” que levaram os Estados Unidos
à invasão do Iraque, com base em mentiras sobre a existência de arsenais de armas
de destruição em massa naquele país, quando se sabe dos interesses geopolíticos
e econômicos que levaram o então governo de George W. Bush à guerra, que custou
mais de 3 trilhões de dólares e milhares de soldados norte-americanos mortos e
feridos em combate.
Neste dia 30
de abril relembramos o ato vigoroso de um povo que não se dobrou diante dos
maiores sacrifícios erguendo a bandeira da liberdade, da independência e da
soberania nacional.
*Pedro
Oliveira é secretário-geral da Associação de Amizade Brasil-Vietnã
Leia
mais sobre temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD
Nenhum comentário:
Postar um comentário