02 maio 2016

Obstáculos a vencer

Os maiores desafios imediatos da economia brasileira
O governo terá que travar batalhas em inúmeras frentes para tentar reverter panorama de recessão e indicadores negativos
Fernando Caulyt, na Carta Capital
Com a permanência da presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto ou não, o governo federal terá grandes batalhas pela frente para tentar evitar em 2017 o terceiro ano seguido de recessão e melhorar alguns indicadores, como a taxa de desemprego e a renda da população. Veja alguns dos principais desafios:
Um dos maiores é reverter o rombo fiscal que, sem o retorno da CPMF e de um crescimento de pelo menos 1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2017, poderá
alcançar quase 120 bilhões de reais. Apesar de o Orçamento deste ano já registrar a arrecadação de 10 bilhões de reais da CPMF, o governo federal não conta neste momento com o apoio necessário para aprovar a recriação do imposto.
Se o governo federal não obtém superávit, ele não consegue economizar para pagar os juros da dívida pública. E os prognósticos não são tão positivos: de acordo com um relatório recente do FMI, a relação entre a dívida bruta e o PIB deverá manter a curva ascendente, subindo de 73,7% em 2015 para 91,7% em 2021. Entre 2014 e 2015 houve um salto de 10,4 pontos percentuais.
Para analistas, o quadro fiscal é crítico: a trajetória da dívida não é sustentável e é difícil de ser revertida a curto prazo, sobretudo devido à rigidez orçamentária e à queda da arrecadação de impostos pelo governo federal.
Há ainda o fator referente às reformas consideradas importantes e que ainda não foram aprovadas, como a da Previdência – cujas despesas representam mais da metade dos gastos públicos – e a Trabalhista – para simplificar o complexo e ineficiente sistema de tributos e desfazer as distorções, que têm consequências graves sobre a produtividade e crescimento da economia.
A recuperação da confiança, juntamente com uma solução para o rombo fiscal, é um dos principais desafios econômicos do governo federal. O índice de confiança do empresário industrial, medido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), caiu 1,2 ponto frente a março e atingiu 36,2 pontos em um total de 100. Quanto mais próximo de zero, maior e mais disseminado é o pessimismo.
Quebrar esse ambiente de pessimismo é de extrema importância para fazer com que a economia volte a crescer e a receber investimentos de empresários e investidores. Só no ano passado, o consumo das famílias diminuiu 4%, e os investimentos das empresas, 14%.
"Esse mau humor tem travado a economia e, quando a confiança está muito baixa, ninguém toma decisão de comprar ou investir", afirma o economista Silvio Campos, da Tendências Consultoria.
Um dos maiores desafios da economia brasileira é reduzir e manter a inflação no centro da meta estipulada pelo Banco Central, de 4,5% por ano, e atingir no longo prazo um nível menor da taxa de juros Selic, que está entre as maiores do mundo. O acumulado dos 12 últimos meses do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em março, é de 9,39%, e a taxa Selic, de 14,25%.
"Para isso, entre outras medidas, reformas estruturais são necessárias. Como ponto de partida, o ajuste fiscal é essencial, assim como a urgente recuperação da credibilidade das políticas fiscal e monetária", afirma a economista Cecília Melo Fernandes.
A recessão econômica tem reflexos sobre o emprego, renda e a formalização do trabalho. Segundo o IBGE, a taxa de desemprego média no país, no ano de 2015, atingiu 8,5% e foi a maior já registrada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), que teve início em 2012. Já a taxa média em 2014 foi de 6,8%.
O rendimento médio real, descontada a inflação, ficou em 1.944 reais em 2015 e, em 2014, foi de 1.947 reais – ou seja, queda 0,2%. Para o IBGE, essa variação é estatisticamente estável. Já o número de trabalhadores com carteira assinada caiu de 36,5 milhões do quarto trimestre de 2014 para 35,4 milhões no mesmo período de 2015.
Caso o governo federal tenha sucesso em implementar todas ou parte das tarefas citadas ao longo do tempo, a economia poderá começar a sair da recessão e já registrar crescimento, mesmo que tímido, a partir de 2017.
Em 2015, o PIB encolheu 3,8% – a maior recessão já registrada desde 1990, quando a economia caiu 4,35% durante o governo do então presidente Fernando Collor. O Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira (25/04) – pesquisa realizada semanalmente junto a instituições financeiras e economistas – prevê um recuo de 3,88% na economia em 2016. Já em 2017, há a expectativa, até agora, de uma leve melhora, com expansão de 0,3%.

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