Combatidas, porém
indispensáveis
Luciano
Siqueira
Aqui na praia, onde reunimos uma boa turma de diferentes
gerações da família, trava-se duro combate às moscas.
Repudiadas por todos - dos mais velhos, como eu, a Alice, de
apenas cinco anos.
Um veneno de minúsculos grãos cor de rosa foi adquirido numa
lojinha quebra-galho, que atrai os pequeninos insetos e os abate de modo
inclemente.
Pedro, nosso jovem sábio, disserta sobre a morte gradativa
de cada uma das moscas atingidas, afetadas no seu aparelho respiratório.
(Se é uma verdade científica, aqui ninguém duvida – por
absoluta ignorância sobre o assunto).
Mas eis que encontro arquivada em meu lap top (salvo engano
do New York Times, transcrita no G1) matéria mais do que edificante, em certos
aspectos, sobre a importância das moscas na vida de nós humanos.
Para o bem ou para o mal: ajudam a fertilizar plantas,
consomem corpos em decomposição e também estragam as
colheitas, espalham doenças, matam aranhas e caçam libélulas, diz a
matéria.
Para cada
pessoa da Terra, há 17 milhões de moscas!
Sem as moscas não haveria chocolate,
pois elas polinizam o cacau.
E são de enorme utilidade a inúmeras
modalidades de pesquisa científica.
Ainda no curso médico da antiga
Faculdade de Medicina da UFPE, conheci a variedade Drosophyla Melanogaster –
que compartilha o mesmo DNA básico de todos os seres vivos -, utilizada no
Departamento de Microbiologia.
Reza a lenda que certa vez uma funcionária
encarregada da limpeza do laboratório considerou sujeira um bom número de
laminas nas quais estavam fixadas moscas dessa espécie e jogou tudo na lata de
lixo – para desespero do pesquisador, que na manhã seguinte simplesmente viu
meses de trabalho interrompido e teve que começar tudo novamente!
Voltando à matéria do NYT, anoto essa passagem:
“As larvas (de moscas) se atiram nas aranhas, pousam sobre elas e se enterram
em seu abdômen. Então, comem as aranhas de dentro para fora.
Mas, se as aranhas
ainda não estão maduras, as larvas podem dormir por alguns anos até que o
aracnídeo cresça e se torne uma grande refeição.”
Fazem o bem quando limpam detritos do
mundo biológico - da madeira apodrecida à sujeira de esgotos.
Mas quando se reproduzem em excesso e
se espalham por toda parte, incomodam muito! E as tratamos como inimigas.
Para concluir, essa me surpreende: no
Instituto de Pesquisa Janelia do Instituto Médico Howard Hughes, na Virginia,
cientistas desenvolvem um diagrama das conexões do cérebro das moscas e, a
partir daí, pretendem descobrir mais detalhadamente como elas pensam.
Se esses pequeninos seres pensam – ou
seja, racionam -, que sejamos capazes de estabelecer um modus vivendi com as
ditas cujas. Pelo bem do mundo animal – para além dos interesses específicos
dos humanos.
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