18 janeiro 2019

Firme nos princípios, hábil na tática


PCdoB e sua histórica luta por democracia e liberdades
Renato Rabelo*

Diante de um contexto tão desfavorável e ameaçador, no âmbito do debate partidário e junto a aliados do PCdoB, a direção do Partido tem discutido e levado em conta vários ângulos da realidade e analisado alternativas.

É necessário o debate no campo das forças de esquerda, populares e democráticas a fim de se alcançar as posições mais justas. É bem-vindo o debate. O que eu não posso entender, já no longo tempo de militância, é o desvirtuamento da questão no tempo da modernidade da internet, em que forças aliadas descambam para o debate rasteiro, marcado por desdém e grosseria dentro de um mesmo campo politico. Até mesmo com as forças adversarias é preciso elevar o nível do debate.

O PCdoB não atua de modo desrespeitoso e nem estimula o desrespeito às forças irmãs, aliadas e amigas. O que presenciei estarrecido nesses últimos dois dias foram setores do campo de esquerda estimulando seus militantes e aderentes a compartilhar coisas horrendas, num ataque desabrido ao PCdoB, uma investida inteiramente inaceitável.

Desde que o PCdoB sinalizou, ad referendum de instâncias mais elevadas, a indicação de Rodrigo Maia para a presidência da Câmara de Deputados, o líder da nossa bancada, deputado Orlando Silva, a deputada Jandira Feghali e demais lideranças partidárias que vêm se pronunciando têm se postado na defesa dessa indicação, invocando os argumentos que serviram de base para a decisão, sem usar agressão ou desacato a qualquer dirigente ou militante do nosso campo político.

O PCdoB, em toda a sua extensa trajetória, tem a nítida marca da defesa intransigente da democracia e nos períodos mais duros assumiu mais ainda o combate pelas liberdades, sobretudo a liberdade política.

Qual a questão em debate? São as reais condições da disputa que envolve a escolha da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados e do caminho a seguir. Não é de agora que o PCdoB tem afirmado que o tipo de acordo nessa disputa no âmbito do parlamento segue procedimento próprio. Assim, não significa e não inclui nenhum pacto programático com o postulante à presidência da Casa. Uma circunstância, portanto, em que esse postulante não comunga da nossa linha política, muito menos da nossa ideologia.

O que está em jogo então nesse tipo de acordo? É o que os parlamentares do PCdoB têm situado, um caminho para se conquistar condições para a atuação democrática e pluripartidária. Em suma: respeito à democracia interna, impedir a asfixia regimental e garantir instrumentos institucionais para fortalecer a luta e a resistência.

Ora, qual o contexto atual? A democracia e as liberdades estão em perigo, além da imposição de retrocessos e de alienação da soberania da Nação. E o governo eleito salienta seu caráter autoritário, porquanto está no centro dos seus objetivos perseguir e, se possível, suprimir a esquerda e os movimentos sociais.

Nestas exatas condições, na qual assume a hegemonia politica forças de extrema direita, sugando até partes da direita tradicional, resta para as forças de oposição contra essa hegemonia a ampla resistência dos brasileiros(as), a luta de massas crescente dos trabalhadores e camadas populares. E mais: o único poder de Estado no qual a oposição ainda tem uma presença minoritária é o parlamento.

Na Câmara dos Deputados não existem condições favoráveis sequer para a disputa de um candidato da esquerda com qualquer outro. Os exemplos maiores da história das lutas emancipadoras mostram que em tais situações é preciso aproveitar o possível, mesmo que seja o mínimo de espaço para melhor atuação da oposição. 

Também é explicito, da parte do PCdoB, que nessa situação, e diante de alternativas e tendências postas, o nosso Partido não aceitará fazer bloco parlamentar com o partido do governo, o PSL. Tem procurando concretizar acordos e unidade maior com os partidos de nosso campo. Tudo isso está explícito nos pronunciamentos da presidenta do PCdoB, Luciana Santos.

Diante de um contexto tão desfavorável e ameaçador, no âmbito do debate partidário e junto a aliados do PCdoB, a direção do Partido tem discutido e levado em conta vários ângulos da realidade e visto alternativas. Pela experiência recente na Câmara dos Deputados, após o golpe parlamentar que destituiu a presidenta Dilma Rousseff, nas condições adversas advindas disso, foi sendo construído, mesmo com altos e baixos, uma relação de bom diálogo e respeito mútuo com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

O que ficou para o Partido, nesse momento singular, respaldado na vivência da nossa bancada, é que esse candidato oferece alguma possibilidade de garantias para preservar a ação parlamentar ampla e plural, tão imprescindível à oposição. Esse é o processo de debate em que vive o PCdoB no processo de preparação da reunião em instância superior, no dia 30 deste mês, quando então se poderá avançar o debate e concluir a posição.
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*Renato Rabelo é presidente nacional da Fundação Maurício Grabois.
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