Talvez
mais cedo do que se imagina
Luciano Siqueira
Comumente novos governantes
iniciam sua gestão cercados de expectativas positivas, que ultrapassam os
percentuais de votos que os elegeram.
Com o capitão presidente não
é diferente. Parcela expressiva da população que votou em Fernando Haddad lhe dá
um crédito de confiança. Um gesto de boa vontade que faz parte de nossa cultura
política. E do jeito de ser do nosso povo.
Oposicionistas dão um tempo,
aguardando os acontecimentos para formularem suas críticas sem que, aos olhos
do grande público, pareçam intolerantes ou precipitados.
Porém o novo presidente e sua
equipe parecem se esmerar em palavras e gestos que contrariam expectativas e
dão azo a duras críticas, inclusive advindas do campo conservador.
Muitas dessas críticas têm um
quê de surpresa, pois por mais bronco que seja o chefe do governo, supõe-se que
haja quem, em sua equipe, segure as pontas e dê o tom.
Entretanto, há um confronto
aberto entre as principais iniciativas do novo governo e o que pensa e espera a
maioria dos seus eleitores.
Considerando
dados do Datafolha, que se supõe se aproximem razoavelmente da realidade, dois
terços da população discordam do alinhamento automático com os EUA.
Também
o conservadorismo exacerbado que o governo pretende imprimir ao sistema educacional,
pautado pela consigna “Escola sem partido”, não conta com a aprovação da
maioria.
Diz
o Datafolha que 71% acham que assuntos políticos devem ser tratados em sala de
aula e 54% consideram que a educação sexual na escola seja mantida.
A
liberação da posse de armas de fogo – uma bandeira essencial (sic) do novo governo
– é reprovada por 61% da população.
A
reforma previdenciária, em torno da qual há verdadeira mixórdia na equipe
governamental, é rejeitada por 71%.
Assim
como 60% se manifestam contra as privatizações de estatais estratégicas 57%
condenam da redução de direitos trabalhistas.
Temas
que dão conteúdo a bandeiras erguidas desde já pela oposição, com ressonância
na opinião pública.
Em
suma, o novo governo pode conhecer um gradativo divórcio com os que o elegeram bem
mais cedo do que se imagina.
Este
é um dado importante na conformação da correlação de forças no embate que põe
em conflito amplos segmentos da sociedade e a aglutinação direitista.
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