17 janeiro 2019

Diferenças estratégicas


O que a China faz, e o Brasil não, para dar certo
Luís Nassif, Jornal GGN

Um bom resumo do modelo chinês de desenvolvimento foi preparado por Ricardo Lopes Katz, da Universidade Federal de Santa Catarina, a partir de sua dissertação “A nova rota da seda: entre a tradição histórica e o projeto geoestratégico para o futuro” (https://goo.gl/tu3SnG).
O sucesso do modelo é indiscutível. Tirou 800 milhões de pessoas da linha da pobreza, de 1978 para cá aumentou a renda per capita de menos de US$ 1.0000,00 para mais de US$ 8.800,00. O país representava 3% da economia global quando Deng Xiaoping iniciou seu mandato. Agora, representa 19%. Mais que isso, enquanto as democracias liberais estão em crise, China continua em trajetória pujante, apesar de muitos problemas ainda não resolvidos, como a desigualdade entre o leste e o oeste do país, questões ambientais e de sustentabilidade, envelhecimento da população, bolha imobiliária, como explica Katz.
Xiaoping avançou em quatro grandes modernizações:
1. Agricultura, com o objetivo de se alcançar a autossuficiência alimentar.
2. Forças Armadas, reduzindo a burocracia e investindo em equipamentos de maior intensidade tecnológica.
3. Indústria, mudando do modelo intensivo em capital (herdado da ex-URSS), para indústrias leves intensivas em mão-de-obra.
4. Promoção das exportações, seguindo o modelo vitorioso de outros países do leste asiático.
O modelo de inovação consistiu em abrir zonas econômicas especiais no sudoeste, para atrair investimentos e integrar o país ao comércio exterior. E usou o mercado interno como instrumento de barganha. Empresa estrangeira, para investir na China, deveria obrigatoriamente estabelecer uma joint venture com empresa local.
Ao Estado coube papel central:
1. Grandes investimentos em infraestrutura. No Brasil, tenta-se esvaziar o maior financiador da infraestrutura, o BNDES.
2. Grandes investimentos em ciência, tecnologia e inovação. No Brasil, entrega-se o setor a um ex-astronauta, sem nenhuma familiaridade com políticas de inovação.
3. Investimento em educação básica e superior, incluindo intercâmbios universitários no exterior. No Brasil, acabam com o programa Ciência Sem Fronteias.
4. Proteção às indústrias nascentes e subsídios às empresas chinesas, além de políticas monetária e cambial estimulando a competitividade nas exportações com conteúdo nacional. No Brasil, anuncia-se um processo de abertura indiscriminada da economia, sem negociação de contrapartidas.
Como explica o economista Paulo Gala, no caso da indústria automobilística, exigiu-se que as montadoras estrangeiras tivessem um nível de conteúdo nacional de autopeças de até 70% no prazo de três anos (https://goo.gl/URh1vz). Essa exigência fez com que as montadoras cooperassem estreitamente com os fornecedores locais. A capacitação foi tão completa que, depois de ter sido derrubado esse requisito (quando a China aderiu à Organização Mundial do Comércio), manteve-se a fidelização.
Na fase mais auda da globalização, a China conseguiu se inserir com sucesso. Agora, que a globalização entra em xeque, e até os Estados Unidos acenam com políticas protecionistas, o Brasil caminha célere para a abertura indiscriminada às exportações.
Espera-se que os Ministros da Infraestrutura e de Energia, que parece ter pés no chão, incutam um mínimo de racionalidade e discernimento à tropa bolsonariana-guediana.
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