Como Flávio
Bolsonaro liquidou o jogo de cena do STF
Luís Nassif,
Jornal GGN
Quando assume
um novo presidente, o prazo e carência, perante a opinião pública, costuma ser
de 6 meses. Jair Bolsonaro está a caminho de quebrar um recorde. Poucas vezes
se viu uma família tão despreparada na arte de se tornar vidraça.
É
evidente que, com mais de vinte anos frequentando o baixo clero, Bolsonaro se
lambuzou com muitas práticas comuns à sua turma – que estão longe de alta
corrupção, mas muito perto da noção de corrupção dos baixos eleitores. E também
de seu maior avalista, as Forças Armadas.
A
maneira como os Bolsonaro se enredaram no caso do motorista Queiroz caminha
para se tornar um clássico na galeria das trapalhadas políticas.
São
uns completos sem-noção O STF (Supremo Tribunal Federal), através de Dias Toffoli, e a Procuradoria
Geral da República, com Raquel Dodge, montaram um jogo complexo, para manter a
aparência de autonomia, na quadra atual de democracia monitorada. Eles estavam
recuando, não tão lentamente, que parecesse provocação, nem tão rapidamente,
que parecesse pânico.
Ao
apelar ao STF para interromper as investigações, Flávio Bolsonaro desmonta o
castelo de cartas, obrigando o ex-implacável Ministro Luiz Fux a “matar no
peito” e, por conta do foro, a jogar a bomba no colo da PGR Raquel Dodge.
Se
não enfrentar o caso Flávio Bolsonaro, depois da perseguição feroz ao
ex-presidente Lula, só restará ao STF e à PGR fechar as portas da casa e
entregar a chave para o Forte Apache.
Aliás,
a opinião pública está sequiosa para ouvir os ensinamentos do Ministro Luis Roberto
Barroso, um dos principais patrocinadores dessa refundação do Brasil, que jogou
o país nos braços dos Bolsonaro.
O
episódio enfraquece também os álibis do Ministro Sérgio Moro, de que as
concessões populistas são relevantes para se aprovar as tais reformas
estruturais – explicitando cada vez mais suas motivações políticas.
Na
entrevista à Globonews, Moro fez uma defesa eloquente (dentro dos limites de
sua eloquência) da maneira como foi montado o Ministério, “sem concessões
políticas”. No dia seguinte, a imprensa revela que o Ministro do Meio Ambiente
conseguiu mais que dobrar o patrimônio no curto período de vida pública,
simplesmente comprando um apartamento por R$ 2 milhões, reformando e dividindo
por dois apartamentos, de R$ 4 milhões cada, mostrando um tino comercial de dar
inveja ao comércio de carros de Queiroz.
Mesmo
com o voo de galinha que se prenuncia, haverá o desafogo com certo otimismo
inicial com a economia, enquanto o Ministro Paulo Guedes vai empinando as pipas
das tais reformas – as “balas de prata” que resolverão imediatamente todos os
problemas nacionais.
Como
me dizia ontem um experiente alto funcionário público, Guedes está praticando a
estratégia empresarial onde deveria existir a estratégia política.
Explicando:
nas negociações empresariais, a lógica é começar pedindo muito para se chegar a
um meio termo. Nas negociações políticas, se o negociador começa propondo
muito, qualquer resultado inferior – mesmo que positivo – será interpretado
como derrota.
Além
disso, Guedes não tem a dimensão, nem o pragmatismo, de seu guru maior, Roberto
Campos. Campos tornou-se um ideólogo radical depois que se aposentou da vida
pública. Enquanto Ministro, movia-se por pragmatismo, por buscar soluções para
problemas. Jamais abriria mão de uma instituição como o BNDES (Banco Nacional
do Desenvolvimento Econômico e Social).
Guedes,
não. É partidário tardio da teoria do choque aplicado no Chile de Pinochet. Ou
seja, aproveite tempos de desacertos para impor mudanças de cunho ideológico,
que não seriam aceitas em tempos de normalidade.
É
por isso que, com o país necessitando urgentemente de retomar os investimentos
em infraestrutura, esvazia o BNDES, criminaliza suas operações, visando
viabilizar as debêntures de infraestrutura – aumentando o custo do capital, sem
ter a menor segurança sobre a capacidade do mercado em prover fundos.
O
grande problema é que, depois da sova de realidade que receber, não terá mais
cacife para as mudanças de rumo que se fizerem necessárias.
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