Progresso
socialmente injusto
Luciano Siqueira
Desde a roda, que facilitou a locomoção dos humanos, às modernas tecnologias, o lógico e sensato seria a redução da jornada de
trabalho físico e um tempo maior para o lazer e as coisas do espírito.
Refletindo sobre a realidade na qual está inserido e
sobre o trabalho cotidiano o Homem alcançaria uma práxis libertadora, em favor
de relações sociais harmônicas.
Mas não é o que acontece.
Os meios de produção têm dono, que mantém e reproduz
o capital necessário para seguir proprietário e contratar a força de trabalho –
seus empregados – necessária à produção de bens e serviços.
Quem tem quer mais. É a lógica do sistema que visa o
lucro máximo.
De tal modo que as transformações atuais do mundo do
trabalho, que possibilitam a produção de mais e melhores mercadorias em tempo
mais reduzido, ao invés de libertar os que trabalham, os marginalizam.
Um estudo do Laboratório de Aprendizado de Máquina
em Finanças e Organizações da UnB (Universidade de Brasília), que se deteve
sobre as 2.602 ocupações brasileiras, referente a trabalhadores com carteira
assinada ao final de 2017, revela que um robô ou um programa de computador põem
sob ameaça 54% dos empregos formais no país.
O estudo estabeleceu uma gradação em percentuais,
para aferir o nível das ameaças. Assim, 25 milhões de trabalhadores (57,37%)
ocupavam vagas com probabilidade muito alta (acima de 80%) ou alta (de 60% a
80%) de automação - incluindo engenheiros químicos (96%), carregadores de
armazém (77%) e árbitros de vôlei (71%), por exemplo.
Participaram da avaliação sobre a probabilidade de automação (num
período de dez anos) acadêmicos e profissionais de aprendizado de máquina. É um
setor da inteligência artificial em que computadores descobrem soluções por
conta própria depois de analisar decisões antecipadamente tomadas.
Técnicas apropriadas foram usadas na descrição das ocupações
com o fito de identificar os riscos.
O aprendizado de máquina conduz à automação, na medida em que
substitui tarefas mecânicas e repetitivas.
Só a resistência dos trabalhadores é que, em algumas
circunstâncias, tem desacelerado o aniquilamento definitivo de postos de
trabalho. Mas pé pouco.
Nenhuma palavra de consolo? Sim. Os pesquisadores dizem que
funções que implicam criatividade e contato humano - psicólogos e artistas, por
exemplo - são quase nada ameaçadas.
Será?
Provavelmente, não. A ganância não tem limites – a não ser
uma espécie de efeito bumerangue: quanto mais gente marginalizada do sistema
produtivo, menos consumidores. Sem estes, como retroalimentar a reprodução do
capital?
O fato é que vivemos um tempo de incrível progresso
científico e tecnológico. Mas de natureza desumana.
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