O Brasil
avança para trás
Luis Fernando
Verissimo, portal Vermelho
O Brasil avança para trás. Tem saudade de si mesmo. O que
explica o ressurgimento no noticiário nacional do movimento integralista senão
uma autonostalgia?
Uma organização que se denomina
integralista anunciou não ter nada a ver com os coquetéis Molotov atirados
contra o prédio da produtora do Porta dos Fundos, programa humorístico da TV. O que espantou
muita gente: por saber que o integralismo não apenas ainda existe como tem uma
organização, e não só tem uma organização como uma dissidência que atira
bombas.
O movimento integralista que deixou
saudade foi o mais atuante dos movimentos filofascistas que cresceram nos anos
30, no Brasil. Ganhou alguma relevância política – e chegou a tentar um golpe –
e com a ascensão do Getúlio Vargas, que endossava algumas das suas pregações
totalitárias, aceitou sua ajuda, mas não lhe deu nada em troca.
Tinham um líder, Plínio Salgado,
chamado de carismático, mas cujo carisma não sobrevivia nas fotos dos jornais
mal impressos. Usavam todos camisas verdes e um signo inspirado na suástica
nazista, e saudavam-se com o braço direito erguido, também como os fascistas.
As manifestações dos camisas verdes atraíam multidões, na época. Era grande a
simpatia pelos integralistas.
Há dias participei de uma festa de
aniversário de criança em que a principal atração era uma enorme torta, saudada
por todos com entusiasmo. “Oba!” exclamou alguém, “uma Martha Rocha!”. Uma o
quê?
Ninguém se lembrava que chamavam a
torta de Martha Rocha em honra da baiana que deixara de ser escolhida Miss
Universo por ter dois centímetros a mais nos quadris, de acordo com o padrão
brasileiro, o que causou uma revolta nacional. A maioria dos adultos na festa
não se lembrava nem da própria Martha Rocha, que era linda, colorida, alegre e
irresistível como… Bem, como uma torta.
No caminho do passado que parecem
estar querendo nos levar, pensei (mastigando o menor pedaço de torta que a
dieta e a consciência me permitiam): que volte a Martha Rocha e que desapareça
para sempre o integralismo, ou coisa parecida.
[Ilustração: Sávio, na Continente]
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