Pesquisas
mostram que maior inimigo de Bolsonaro é ele mesmo
Capitão vai às urnas rejeitado por 51%, índice proibitivo para
qualquer candidato à reeleição
Bernardo
Mello Franco, O Globo
A proximidade das urnas está mexendo com os nervos do capitão. A cinco
dias do primeiro turno, Jair Bolsonaro elevou o tom contra inimigos reais e
imaginários. Xingou o ex-presidente Lula, atacou prefeitos e governadores,
voltou a afrontar o ministro Alexandre de Moraes.
O presidente começou a terça-feira com um bate-volta no Nordeste.
Participou de motociata, visitou um “bodódromo” e montou no lombo de um touro.
Um adesivo com seu número foi colado nos chifres do pobre animal.
De manhã, o capitão se disse “mais nordestino que os nordestinos”.
Faltou combinar com os eleitores. De acordo com o Ipec, o pernambucano Lula
lidera a disputa na região com 39 pontos de vantagem.
À noite, Bolsonaro foi às redes para atacar Moraes. Reclamou da quebra
do sigilo do assessor que paga despesas da primeira-dama e fez um desafio
público ao ministro: “Você um dia vai dar uma canetada e me prender?”.
Ele ainda voltou a insinuar que existiria uma conspiração para tirá-lo
do poder. O complô envolveria a atuação de estados e municípios na pandemia, a
Justiça Eleitoral e as pesquisas de intenção de voto, nas quais o presidente
finge não acreditar.
Quem lê os números constata que a reeleição de Bolsonaro está cada vez
mais distante. Segundo o Ipec, 47% dos eleitores consideram seu governo ruim ou
péssimo, e 51% dizem não votar nele de jeito nenhum. O índice é considerado
proibitivo para qualquer político que dispute um segundo mandato.
A rejeição ao presidente chega a 55% entre as mulheres. É uma resposta
direta ao desdém pelas vítimas da pandemia, à exaltação das armas e às
declarações machistas repetidas desde o início do mandato. Ao insistir em se
dizer “imbrochável”, ele prova que é incapaz de entender o recado das
eleitoras.
O capitão também tem fracassado em furar o bloqueio dos mais pobres. Na
faixa de renda familiar de até um salário mínimo, sua rejeição atinge os 58%. O
dado mostra que os eleitores não se deixam enganar por benefícios turbinados em
véspera de eleição.
Ao esbravejar contra tudo e contra todos, Bolsonaro tenta apontar
culpados para seus próprios defeitos. Mas o diagnóstico da pesquisa é claro:
seu maior inimigo é ele mesmo.
Para a turma de Lula agora
“santinhos” fazem a diferença https://bit.ly/3SeQTdN
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