Ordem no caos
Os
grandes craques vão além do conhecimento científico, observam detalhes e buscam
reinvenção
Tostão, Folha de S. Paulo
Flamengo e Corinthians são os finalistas da Copa do Brasil.
O São Paulo jogou bem nas duas partidas, tentou pressionar e marcar um gol no
início, mas prevaleceu a maior
qualidade individual do Flamengo. O time rubro-negro, mesmo sem
meias pelos lados, que marquem e que ataquem, não fragiliza a marcação, porque
os meias Éverton Ribeiro, pela direita, e João Gomes, pela esquerda, ajudam os
dois laterais.
A
estratégia do Corinthians, de pressionar no campo do Fluminense para recuperar
a bola, e de transitar, com velocidade, de uma intermediária à outra, foi
superior à do Fluminense, de aproximação e de troca de passes, para criar
chances de gol. Dessa vez, Cássio não precisou fazer grandes defesas.
Vítor
Pereira, após a partida, disse que essa é a maneira de jogar que desejava ver
no Corinthians. Para isso, é necessário escalar mais vezes os melhores e não
depender tanto do apoio da torcida. Grandes equipes são as que brilham dentro e
fora de casa.
Amanhã
é dia de Fla-Flu, pelo Brasileirão. Vão jogar os titulares? O Flamengo, mesmo
sendo finalista da Copa do Brasil e da Libertadores, não deveria abandonar o Brasileirão, a competição
mais importante de nosso futebol. As finais da Copa do Brasil serão
apenas nos dias 12 e 19 de outubro, e a da Libertadores, no dia
29 de outubro.
O
Fluminense, que tem um elenco inferior ao das principais equipes brasileiras,
não pode se abater e deve lutar para ficar entre os primeiros do Brasileirão,
para conseguir a vaga na Libertadores do próximo ano. O torcedor deveria
aplaudir o time e o técnico, pelo bom futebol, na média das partidas, e pelas
boas colocações no Brasileirão e na Copa do Brasil.
Depois
de quase três anos de pandemia, estarei de férias por duas semanas, na
tentativa de fortalecer a alma e o corpo. Vou perder o acesso oficial do
Cruzeiro à Série A. Eu e vários leitores estamos cansados de minhas análises
técnicas e táticas, de minhas filosofias de botequim, da importância que dou ao
imprevisível e de minhas críticas à exagerada
valorização dos treinadores, como se eles fossem sempre, com suas condutas,
os grandes e únicos responsáveis pelos resultados.
Com
frequência, não há correspondência entre desempenho e placar e entre a
estratégia usada pelos treinadores e o que acontece em campo. Existem também outros
fatos emocionais e inesperados que vão além do conhecimento técnico.
Após
a época medieval, os iluministas achavam que a razão seria o único caminho para
a sabedoria, que a natureza e todas as coisas tinham a lógica da matemática e
que, somente pelo conhecimento científico e pela racionalidade, as pessoas
seriam melhores e mais felizes. Não é bem assim. O imponderável continua
importante na vida, no futebol e em todas as áreas, e as pessoas não estão tão
felizes.
Os
grandes craques, profissionais de todas as áreas, são os que, além do
conhecimento científico, observam os detalhes e tentam reinventar o futebol e a
vida e colocar ordem no caos.
O
futebol repete a vida, na emoção, na razão, na paixão, na técnica e na
simbolização.
O psicanalista Lacan dizia
que a vida se passa em três níveis, o real, o simbólico e o imaginário. O real
é a mistura dos desejos e dos instintos. Lacan falava que o real era
impossível. O ser humano, para sobreviver e evoluir, sublimou, reprimiu os
instintos e criou o mundo simbólico, da cultura e da civilização. Mas é preciso
imaginar, sem perder a razão.
Veja: O teólogo
cristão e a poeta: um gesto de confiança e de afeto https://bit.ly/3QKokTX
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