Com Lula, pobreza e desigualdade caem ao menor nível em três décadas
Renda média sobe 70% desde os anos 1990, enquanto pobreza extrema chega ao piso histórico; estudo do Ipea destaca peso do emprego e dos programas sociais.
Cezar Xavier/Vermelho
A nova pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) confirma um marco social: o Brasil chegou em 2024 ao menor nível de pobreza extrema e de desigualdade de renda dos últimos 30 anos. A renda média per capita, por sua vez, registrou crescimento acumulado de 70% desde 1995, consolidando o período recente — especialmente 2023 e 2024 — como o de maior avanço simultâneo nas três métricas.
O estudo, intitulado “Pobreza e desigualdade no Brasil no curto e no longo prazo”, mostra que o país viveu ciclos de instabilidade, recessão e retrocessos, mas conseguiu retomar a trajetória de melhoria no pós-pandemia, apoiado em dois pilares: a expansão dos programas sociais e a recuperação do mercado de trabalho.
Retomada pós-pandemia impulsionou renda e reduziu desigualdades
Os pesquisadores destacam que entre 2021 e 2024 o rendimento domiciliar per capita cresceu 25%, atingindo o maior valor já registrado — R$ 2.015 por pessoa. O ritmo superou até o do PIB per capita, mostrando que a recuperação social avançou mais rápido que a economia como um todo.
A volta do emprego também foi decisiva. Entre os fatores que mais contribuíram para a redução da pobreza e da desigualdade no período, 49% da queda no coeficiente de Gini e 48% da redução da extrema pobreza vieram do aumento da renda do trabalho.
Entre 2023 e 2024, com o mercado aquecido e o salário mínimo valorizado, o peso do emprego ficou ainda mais evidente: quase três quartos da queda da extrema pobreza resultaram do avanço da renda laboral.
Programas sociais tiveram efeito imediato e profundo
A expansão e reestruturação dos benefícios sociais após a pandemia também desempenharam papel crucial. Entre 2019 e 2024:
- o valor médio pago por programas como Bolsa Família e BPC cresceu 135% em termos reais;
- o gasto total subiu de 1,2% para 2,3% do PIB;
- a cobertura e a focalização melhoraram, com adicionais para famílias com crianças e adolescentes.
A nova configuração do Bolsa Família consolidou um patamar mais alto de transferência por pessoa, ampliando tanto a rede de proteção quanto o impacto redistributivo. Seu efeito sobre a desigualdade praticamente dobrou em relação à década anterior.
Pobreza extrema vai a 4,8% e desigualdade recua quase 18%
O estudo calcula pobreza e extrema pobreza a partir das linhas internacionais do Banco Mundial — US$ 3 por dia e US$ 8,30 por dia, respectivamente.
Os resultados ao longo de 30 anos são expressivos:
- Extrema pobreza: caiu de 25% nos anos 1990 para 4,8% em 2024 — o menor nível da série.
- Pobreza: recuou de mais de 60% para 26,8%.
- Desigualdade (coeficiente de Gini): redução acumulada de quase 18%, atingindo em 2024 o menor patamar da História.
A redução mais intensa se concentrou em dois períodos: 2003–2014 e 2021–2024, ambos marcados por políticas de renda e emprego mais consistentes.
Avanços convivem com limites estruturais e desafios futuros
O estudo ressalta que, apesar dos progressos, o Brasil ainda apresenta elevada concentração de renda. Além disso, o próprio método de coleta pode subestimar tanto benefícios sociais quanto rendimentos da elite — o que indicaria desigualdade real ainda maior.
O movimento mais recente de redução encontra agora uma zona de dificuldade: com desemprego já muito baixo e programas sociais estabilizados em alto nível, o país depende cada vez mais de crescimento sustentado da produtividade para manter a trajetória de melhora.
Reforma do Imposto de Renda e juros mais baixos podem acelerar mudanças
Para os próximos anos, o Ipea identifica dois fatores-chave para continuar reduzindo desigualdades:
1. Reforma progressiva do Imposto de Renda
Pela primeira vez, a redistribuição pode vir não só do gasto social, mas também da tributação sobre os mais ricos, aumentando a progressividade e corrigindo distorções históricas.
2. Queda da taxa de juros
Uma Selic menor reduz desigualdades ao baratear crédito, estimular investimentos e impulsionar crescimento econômico. Isso reforça renda do trabalho e reduz a dependência de transferências.
Brasil vive melhor momento social da série histórica
O estudo do Ipea conclui que o país atravessa um momento socialmente excepcional: mais emprego, mais renda, menos pobreza e menos desigualdade. Para sustentar esse avanço, será essencial combinar políticas sociais robustas com crescimento econômico de longo prazo.
O desafio, agora, é transformar um ciclo de recuperação em trajetória permanente de inclusão, produtividade e justiça distributiva — garantindo que o melhor ano da série histórica seja ponto de partida, e não ponto fora da curva.
[Qual a sua opinião?]
Leia também: Maior investimento social da História https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/10/boa-noticia_20.html

Nenhum comentário:
Postar um comentário