09 agosto 2008

Bom dia, Cyl Galindo


Espetáculo

Existe claridade na minha rua
mas também muito silêncio estendido nas janelas
as palavras dormem no interior das coisas
como dormem todas as crianças.

Parece a falsidade estar suspensa
pelos galhos das árvores,
mas de modo a poder observar,
como da proa de uma nau sem rumo,
que tudo se inclina para o mar.

Então eu volto a olhar a rua:
já não se afigura tão calma:
transeuntes calados portam armas
no interior de gestos mansos,
mas uma necessidade acumulada
torna-se capaz de morder até o vento
do medo, que sopra as bases dessa estrutura.

Indiferente a tudo isso,
há uma predisposição madura
armando na praça uma ribalta
para um espetáculo de Democracia.
(Brasília, 86)

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