14 agosto 2008

Universitário aos 81 anos

No Diário de Pernambuco:
Existe idade para estudar?
Janguiê Diniz Doutor em Direito
janguie@mauricionassau.com.br

Fazer exercícios físicos, cumprir tarefas domésticas, dedicar-se ao trabalho, estudar. A rotina de Gabriel D'Annenzio, aluno de Direito da Faculdade Maurício de Nassau, pouco se diferencia da dos seus colegas de classe. Mas um detalhe o torna único: a idade. Aos 81 anos, Gabriel resolveu voltar aos bancos da universidade neste semestre, ensinando que nunca é tarde para estudar.

Ele passa a fazer parte de uma pequena parcela dos ingressos em graduações com idade acima de 65 anos. Dos cerca de 1,8 milhões de novos estudantes universitários em todo o país, 1,3 mil estão nesta faixa etária, de acordo com o último Censo da Educação Superior, divulgado pelo Ministério da Educação no ano passado. Os dados do levantamento revelam que no Nordeste a proporção é ainda menor: dos 285.044 ingressantes, apenas 145 são idosos.

Estes baixos índices condizem com a média de tempo de estudo da população com mais de 60 anos, que é de 3,4 anos no Brasil e 2 no Nordeste, segundo o último Censo Demográfico do IBGE. Em um momento em que as pesquisas indicam a mobilidade da pirâmide etária, com previsões de que até 2020 cerca de 25 milhões de brasileiros sejam idosos, correspondendo a 12% da população, segundo o IBGE, faz-se necessário repensar as políticas de educação para a terceira idade.

Para estimular a continuação da atividade intelectual, boas iniciativas já foram implementadas pelo país afora, como o projeto de Universidade para a Terceira Idade, criado há 30 anos, na França, e que chegou ao Brasil na última década de 90, com uma proposta mais voltada para o incentivo ao acúmulo de conhecimento, do que para o mercado de trabalho. Porém não há mal nenhum em motivar também a continuação da atividade produtiva, com educação continuada, para acabar com o estigma de que os idosos são uma carga econômica para a sociedade.

Seu Gabriel D'Annenzio, por exemplo, tem uma trajetória que para muitos sinalizaria o momento de parar para curtir a aposentadoria. Casado, com quatrofilhos e sete netos, formado em Administração e Contabilidade, pós-graduado em Auditoria Externa, com mais de 50 anos dedicados ao serviço público, atuando atualmente como consultor contábil, ele resolveu investir na qualificação profissional, sob a justificativa de que os conhecimentos jurídicos melhorariam ainda mais a qualidade de seu serviço.

D'Annenzio retorna às salas de aula em busca de mais conhecimento, mas quem primeiro nos trouxe a lição foi ele, com o testemunho de sua força de vontade, que deve servir de exemplo para várias gerações. Os avanços da medicina nos fizeram viver mais. Agora cabe à educação nos proporcionar o viver melhor.

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