Nossa força, nossa voz
Luciano Siqueira
Num país cujas instituições sempre padeceram de inconsistência, instabilidade e vida curta, a septuagenária União Nacional dos Estudantes (UNE) se destaca pela presença marcante nas jornadas patrióticas e democráticas que em diversos momentos da vida nacional contribuíram para alterar o curso dos acontecimentos. De 1937 até hoje, por caminhos sinuosos e muitas vezes acidentados (teve sua sede invadida e depredada no golpe militar de 1964), a UNE se afirma como entidade nacional unitária dos estudantes universitários, partícipe da cena educacional e política, reconhecida e respeitada por todos os segmentos da sociedade.
Ontem a entidade protagonizou dois eventos relevantes.
Em solenidade no Rio de Janeiro, o presidente Luis Inácio Lula da Silva assinou o projeto de lei que indenizará a UNE (juntamente com a UBES, União Brasileira de Estudantes Secundaristas) pelo incêndio criminoso da sede na Praia do Flamengo, 132, ocorrido em abril de 1964.
Na oportunidade, também foi anunciada a Caravana da UNE em defesa da saúde pública, que promoverá debates e atividades diversas em 41 universidades públicas e privadas, mesclando saúde, cultura e educação.
A Caravana é uma ação conjunta entre a UNE e o Ministério da Saúde e abordará questões candentes do interesse da juventude, como violência no trânsito e alcoolismo, educação sexual, prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, políticas públicas para as mulheres, direitos sexuais e reprodutivos e política de redução de danos. Em destaque, o fortalecimento do SUS (Sistema Único de Saúde) pelo equacionamento dos problemas de financiamento e gestão.
O projeto de Lei que repara os danos sofridos pela entidade sob o regime militar e a ação em defesa da saúde pública refletem, a um só tempo, o resgate histórico de um momento difícil vivido pela entidade e o seu amadurecimento político.
A UNE se mostra madura na convivência democrática com um governo aliado, diante do qual combina atitudes de apoio e de protesto, conforme o tema ou a situação em tela. A entidade que se associado ao Ministério da Saúde em defesa do SUS é a mesma que sustenta um combate firme à política de juros altos, denunciando com vigor o apego do governo aos fundamentos macroeconômicos de cunho neoliberal que ainda persistem na gestão de Lula, sob os ditames do Banco Central.
Comportamento dúbio? Claro que não. Não há como ser contra sempre, nem a favor a qualquer título. Esses dois extremos são próprios de entidades corporativistas, sem espinha dorsal, que se deixam levar por interesses de ocasião. A UNE, ao contrário, considera os fatos em sua abrangência e se mostra segura ao adotar, em relação ao governo, postura crítica e ao mesmo tempo propositiva. Daí merecer o grito de guerra que há décadas ecoa pelas ruas do Brasil: A Une somos nós, nossa força, nossa voz!
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