Luciano Siqueira
Publicado no portal Vermelho
www.vermelho.org.br e no Blog de
Jamildo (Jornal do Commercio Online)
Parece-me uma obviedade dizer que o próximo dia 8, quando se
comemora em todo o mundo o Dia Internacional da Mulher, assinala inúmeras
conquistas e também renovação da luta pela igualdade de gênero. Idem registrar
que essa luta, de caráter político, ideológico e cultural, se projeta em longo
curso e tem caráter estratégico e decisivo no processo civilizatório das
nações. Obviedades que nunca é demais reafirmar.
Do mesmo modo, vale comentar sobre o sentimento ainda
largamente predominante entre nós outros que formamos a outra metade da
população do planeta, os do gênero masculino, de verdadeiro incômodo,
insegurança e receio diante do avanço da luta de libertação das mulheres.
Porque é no cotidiano de nossas vidas que mora a dificuldade.
O cara se vê senhor da situação até o dia em que a
companheira é aprovada num concurso, ganha emprego fixo e satisfatoriamente
remunerado. Muda a relação, materialmente passa a ser entre iguais. Tome tempo
para se acostumar, mais tempo ainda para reconhecer que o poder agora é dividido.
Na militância política, mesmo em círculos à esquerda e
politicamente comprometidos com a causa emancipacionista, enquanto o sujeito é
líder ou dirigente, reconhecido como tal e tem na companheira apenas uma
coadjuvante, o barco navega em plácidas águas. Mas eis que ela evolui, encontra
seu próprio nicho de atuação, se destaca e alcança identidade própria: haja
serenidade, paciência e compreensão até que a adaptação se dê – e são inúmeros
os casos em que o amor se esvai na esteira da igualdade conquistada.
Talvez seja na intimidade da relação sexual, expressão
concentrada do amor, da liberdade e da solidariedade humana, que a resistência
do macho se revele mais intransigente e inexpugnável, mesmo quando assume
formas sutis e dissimuladas. A quem cabe o comando na busca do êxtase? Juro que
faria aqui, se fosse o caso, uma alentada lista de camaradas que sequer admitem
discutir o assunto, ciosos da primazia secular que desejam preservar, mesmo que
não tenham a coragem de admitir claramente.
Por essa e muitas outras é que além de proclamar os avanços
que conquistamos em nossa luta – no Brasil, nos últimos trinta anos - , e de
reafirmar bandeiras, há que assumirmos – mulheres e homens que se batem pela
igualdade de gênero – o compromisso de travarmos a luta de ideias, aprofundar
concepções, questionar atitudes em cada gesto e em cada fato do dia a dia.
Mais mulheres no poder político, sim; esta é uma grande e
abrangente bandeira que devemos empunhar. Superação das barreiras ideológicas e
culturais também – desde que todos nos esforcemos na mesma direção, cúmplices
que devemos ser em todas as situações.
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