11 agosto 2015

Ambiente anti-golpe

Sinais de sensatez da cena política

Luciano Siqueira, no Blog da Folha

Ontem, na celebração do cinquentenário de Eduardo Campos, no Paço Alfândega, coube ao governador Ricardo Coutinho, da Paraíba, pronunciar as palavras mais certeiras: diante da crise nacional, que a polêmica aconteça, a luta entre contrários - situação e oposição - enriqueça a busca de alternativas, mas que jamais se pretenda romper com a legalidade democrática, sob pena de retrocessos inaceitáveis.

Referindo-se ao próprio partido, o PSB, e mencionando a memória de diálogos e situações vividas com Eduardo, Coutinho sublinhou que "fazemos parte de um campo" e esse "campo" não deseja, sob nenhuma hipótese, correr o risco da quebra da ordem constitucional, como no passado, que exilou da cena política Miguel Arraes e alguns milhares de brasileiros.

A fala do governador paraibano ocorre num instante em que se somam e iniciativas de diversas origens, na mesma direção.

Ao presidente Dilma retoma a iniciativa, janta com mais de quarenta senadores e ministros, recebe empresários e movimentos sociais e debate a pauta pós-ajuste.
No Maranhão, em evento público ao lado do governador Flávio Dino, pronuncia-se com nitidez ao "fazer um apelo aos brasileiros: vamos repudiar sistematicamente o vale tudo para atingir qualquer governo, seja o governo federal, seja os governos dos estados ou dos municípios. No vale tudo quem acaba sendo atingido pela política do quanto pior melhor é a população”. Mais: “O Brasil precisa muito, mais do que nunca, que as pessoas pensem primeiro nele, pensem no que serve à nação, à população brasileira e, depois, pensem em seus partidos e nos seus projetos pessoais".

O presidente do Senado, por seu turno, dialoga com ministros e lideranças partidárias e assume posição distinta da postura do deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, que esperneia em favor de si mesmo e se apóia em parcela expressiva dos seus pares, movidos por interesses imediatistas e nem sempre confessáveis.
Renan afirma repudiar a pauta negativa e desestabilizadora e apresenta sugestões ao governo.

O pronunciamento recente do presidente Paulo Scaf, da Federação das Indústrias de São Paulo e de empresários de destaque, também na direção da manutenção da ordem democrática, reforçam a construção de uma onda de bom senso, em contraposição à errática e irresponsável pregação, pelo PSDB e quejandos, em favor da interrupção do mandato da presidenta a qualquer preço. 

O atual mandato de Dilma está no sétimo mês. Concomitantemente com a promoção do ajuste fiscal - restritivo e doloroso sob todos os títulos, porém necessário -, o governo trabalha para viabilizar em seguida pesados investimentos em infraestrutura, via regime de concessões, contemplando portos, aeroportos, rodovias e hidrovias; opera o Plano Safra e o Plano Safra para a Agricultura Familiar e o Minha Casa, Minha Vida 3. Avança na consecução de bem urdida agenda de comércio exterior, que momentaneamente ganha fôlego apoiado no câmbio favorável. 

Claro que o consórcio oposicionista midiático-partidário seguirá fazendo barulho. Evidente que a crise múltipla - econômica, política e institucional - carece ainda de superação.

Mas é inegável que, gradativamente, a nação tende a reunir energias positivas no sentido de conviver com a polêmica Operação Lava Jato - um misto de ação repressiva com instrumentalização política - e suas espalhafatosas consequência midiáticas e, ao mesmo tempo, reordenar a gestão da economia e articular ampla coalizão em defesa da democracia, da consecução do ajuste fiscal e da retomada do crescimento econômico.
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