A força do preconceito
Luciano Siqueira, no Jornal da
Besta Fubana
Educação
começa em casa, costuma-se dizer. E o preconceito também – a julgar pelo que
revela estudo feito pelo Programa Rio sem Homofobia. Onde os homossexuais mais
sofreram agressões, no estado do Rio de Janeiro, em 2012, foi precisamente no
ambiente familiar: do total de denúncias registradas nos quatro centros de
referência em operação, via ligações 0800, 22% foram praticados pelos próprios
amigos e parentes, nas residências das vítimas, sendo 38% agressões verbais e
22% agressões físicas.
Depois
da própria casa, é na rua (18%) em que atitudes preconceituosas mais se verificam. Homossexuais têm seu direito de ir e vir
constrangido.
Lícito
supor que o mesmo aconteça pelo Brasil afora, apenas com leves variações
estatísticas.
Isto
mostra o quanto é necessário avançar no processo civilizatório brasileiro, de
que o grau de superação do preconceito homofóbico pode ser tomado como um dos
indicadores.
Igualmente
a questão se coloca em relação a outras modalidades de preconceito e de
discriminação. De raça, gênero e condição socioeconômica e até em relação ao
endereço.
Inúmeros
e recorrentes são os registros de jovens que ocultam a localidade onde residem
quando se candidatam a um emprego. Áreas das cidades reconhecidamente pobres
e/ou palco de maior incidência da violência criminal conferem, ao senso comum,
uma espécie de suspeita a priori, velada ou mesmo explícita.
O
mapeamento da violência criminal de uma cidade como o Recife, por exemplo,
elemento de referência para a formulação e o incremento de políticas públicas
específicas, se constitui em dado de realidade a ser manejado sempre com
cuidado. Para evitar o rebaixamento da autoestima da população ali localizada
e, por extensão, vitimá-la pelo preconceito.
Assim,
impõe-se o enfrentamento das desigualdades que objetivamente realimentam
atitude inadequadas, preconceituosas – mediante políticas públicas inspiradas na
sustentabilidade econômica ambiental e social – em estreita articulação com o
embate de ideias. Uma reforça a outra, sendo que a extirpação do preconceito
requer persistência e continuidade, numa visão de longo prazo.
Em
toda sociedade, a conquista de padrão elevado de vida material não corresponde
de imediato ao mesmo alcance civilizatório. A subjetividade é em grande medida determinada
pela realidade objetiva, mas tem vida própria e implica em luta específica.
Visão de mundo e adoção de valores mais avançados leva muito mais tempo.
Pesquisas
como a realizada no Rio de Janeiro, portanto, além de revelarem o lado cruel da
discriminação e do preconceito, fornecem dados preciosos para o debate, a
formatação de políticas públicas e a luta em favor da solidariedade humana.
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