Na chapa quente, fazendo o possível
Luciano Siqueira, no portal Vermelho
A analogia parece exagerada, mas cabe.
Sob o tiroteio parlamentar e midiático, para preservar a
ordem democrática, buscar a governabilidade e retomar o crescimento do País, a
presidenta Dilma e as forças que a apóiam movem-se sobre uma chapa quente.
Parar é impossível, o calor sob os pés não permite; movimentar-se é necessário.
E os movimentos precisam se dá na direção certa, abrindo
veredas, explorando possibilidades.
As iniciativas que há quase um mês se sucedem – do diálogo
com setores do Parlamento, o empresariado e os movimentos sociais, à tentativa
de fixar uma agenda mínima de entendimento – são benéficas.
Benéficas e promissoras. Desde que tenhamos (lideranças e
correntes políticas verdadeiramente interessados na superação da crise) a dimensão
exata da empreitada e da absoluta necessidade de “despojamento” em favor dos
interesses nacionais.
No mundo inteiro o mar não está para peixe. As sucessivas
desvalorizações do yuan como medida de defesa da economia chinesa e os
contratempos das bolsas de valores nos centros mais dinâmicos do capitalismo
são como que um alerta de que a crise global se arrasta sem solução, ao
contrário do que proclama a mídia tupiniquim.
Enfrentamos no Brasil não apenas, nem principalmente,
intempéries decorrentes de nossas vulnerabilidades e erros. O “inimigo” é bem
maior, o capital financeiro que nucleia o capitalismo monopolista hoje e
determina a economia mundial sob seus interesses. O caso de Aléxis Tsípras, na Grécia é emblemático: venceu um
plebiscito com 61%, e dias depois não suportou as imposições da Alemanha e do
capital financeiro.
Nesse sentido, literalmente a raposa cuida do galinheiro: os
principais causadores da crise têm o comando das iniciativas no sentido de
superá-la. Ponto para a usura, para o capital fictício; prejuízo para a
produção, o emprego, a democratização da renda, a redução de disparidades
regionais e a vida das pessoas.
Dito de outra forma, medimos forças com um gigante que, embora
envolto em suas próprias contradições e no mar de impasses que cria, tem o
poder.
Nessas circunstâncias, a apresentação da Agenda Brasil pelo
presidente do Senado, Renan Calheiros, a articulação da Frente Brasil Popular
(com lançamento previsto para 5 de setembro), por um lado; e por outro, as
dissensões no grande empresariado e nas hostes oposicionistas, com o crescente
coro condenatório da tentativa de impeachment da presidenta, configuram, no
conjunto, uma pauta de oportunidades.
A dimensão da batalha reclama firmeza de propósitos e
amplitude e flexibilidade - para juntar forças (ainda que díspares e
contraditórias) e superar a crise. Fazendo o possível, sem sectarismo nem
preconceito.
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