Os recifenses
Jorge
Jatobá, em Opinião econômica (Ceplan)
Recifense é aquele que não apenas nasceu no Recife,
morando ou não na cidade, mas aquele ou aquela que a urbe acolheu. É gente que
na cidade nasceu e ficou ou para ela migrou. Por este critério Recife tem, em
2015, 1.617,2 mil habitantes, distribuída em 218 Km² de território (0,22% da
área do Estado) a uma razão de 7.418 habitantes por Km². Desde 1940, todavia, a
cidade passou por profundas mudanças demográficas.
A população do Recife quase quintuplicou entre 1940
e 2015 (4,64 vezes). Durante este período a cidade sofreu um significativo
processo de urbanização, recebendo migrantes do próprio Estado e da região e
posteriormente expulsando- -os para outros destinos próximos (municípios
vizinhos) ou distantes (fora do Estado e também da região). Paralelo a esse
movimento migratório, a cidade cresceu orgânica e endogenamente sobretudo
devido à alta fecundidade que caracterizou o primeiro estágio da transição
demográfica que o país experimentou até meado dos anos 70 e ao qual Recife não
foi exceção. A elevada taxa de mortalidade da época não constituiu impedimento
ao avanço populacional. Essa expansão demográfica aumentou a demanda por
serviços públicos, por infraestrutura econômica e social e por habitação. A
resultante desse processo em cidade cercada por rios, mangues, morros e o mar
foi a ocupação de vários espaços urbanos por uma população que buscava melhorar
a sua qualidade de vida. Daí resultou os assentamentos subnormais representados
por favelas na planície, por palafitas nas áreas alagáveis e por habitações
precárias e inseguras nos morros e elevados. A cidade também se verticalizou em
muitas áreas, sobretudo nas mais afluentes. Estas passaram a conviver mais
proximamente com as comunidades mais pobres. A síntese histórica desse processo
que naturalmente teve várias etapas foi a construção de uma cidade
majoritariamente pobre, violenta, profundamente desigual e com significativa
exclusão social.
Em decorrência de alta fecundidade e imigração e a
despeito de elevada taxa de mortalidade geral, a população do Recife mais do
que dobrou, crescendo 102% nos 20 anos que separam 1950 de 1970. Nos 40 anos
seguintes, de 1970 até 2010, houve uma acentuada mudança no padrão demográfico,
tendo crescido menos da metade (45%) do que nos 20 anos anteriores. Entre 2015
e 2010, a população expandiu-se em apenas 5,2%.
Houve, entre 1991 e 2015, uma significativa mudança
na demografia recifense resultante de expressiva queda da fecundidade, discreta
redução da mortalidade geral e rápida diminuição da imigração, especialmente a
de caráter intra-estadual e intra-regional. Ademais, a expansão da
infraestrutura da cidade e o adensamento urbano expeliram parte da população
para os municípios vizinhos que também assumiram, em parte, o papel de
cidades-dormitórios.
Recife, segundo o IBGE/2010, é uma cidade
predominantemente feminina, negra (pretos e pardos) e com uma expressiva
participação de adultos (30 a 59 anos) no conjunto da população (41%). A maior
parte dos recifenses é formada por mulheres (53,8%), resultado decorrente de
emigração seletiva de homens e também de uma maior taxa de mortalidade
masculina e por negros (57,9%).
Essa cidade cortada por rios e tocada pelo mar tem
uma população alegre, jovem, culturalmente diversificada e etnicamente rica,
mas apresenta uma face cruel e desumana marcada pela violência, exclusão
social, pobreza e desigualdade. Como tornar a cidade melhor para os recifenses
viverem e trabalharem?
___________
*Jorge Jatobá é Doutor em
Economia e Sócio-Diretor da Consultoria econômica e Planejamento - CEPLAN e
CEPLAN MULTI. Este artigo foi publicado na Edição Nº 114 da Revista Algomais (Setembro de 2015).
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