A envergadura política da campanha anti-Dilma
Renato Rabelo, no
Vermelho
É grande a dimensão da crise política e
econômica e das suas mútuas sinergias, pela qual atravessa o Brasil na
atualidade. Entretanto, essa situação de crise é diminuta se comparada à
campanha avassaladora e destruidora deflagrada contra a presidenta Dilma
Rousseff, sobretudo depois de sua segunda vitória eleitoral em 2014.
A oposição – que não aceitou a derrota –, em interatividade com
a mídia hegemônica nativa, com seus editorialistas e articulistas a soldo, seus
agentes de poder e vasta rede “viral”, perpetram inominável cruzada contra uma
presidenta da República, seu papel, seu desempenho e até da sua própria
personalidade.
O centro de gravidade de toda crise que ora vive o país é a aguda e
polarizada luta política. A oposição visa atingir determinados objetivos
estratégicos: no plano político, solapar a construção da base de sustentação do
governo; no plano econômico, abalar a expectativa para realização dos
investimentos, decisivos para a carente recuperação do crescimento.
Mas, em síntese, o gume do ataque está dirigido a desconstruir
politicamente a presidenta Dilma e seu governo, abrindo a via da sua
destituição.
O presidencialismo brasileiro, que tomou a forma de “presidencialismo de
coalizão”, é inerente à singularidade do nosso sistema político, no qual o
presidente da República é eleito, mas não está garantido para ele maioria no
Congresso Nacional, na Câmara e no Senado.
Essa realidade cria um paradoxo: o presidente eleito não tem o apoio de
pronto de uma maioria parlamentar para sustentar o projeto por ele assumido,
que lhe deu a vitória. A coalizão para governar passa a ser assim uma
construção complexa porquanto é realizada frequentemente numa situação política
adversa, que consiste em unir uma base heterogênea e instável.
E eu pergunto ao distinto público: conformar tal coalizão de governo no
parlamento já é difícil em condições de “paz”, imagine nas condições atuais, de
grande crise, de acirrada guerra política. É exatamente por aí, por esse grande
flanco, a principal investida antigoverno, procurando impedir a sua
estabilização, é por aí a arremetida golpista, tentando sua destituição.
Mesmo porque a direita na atualidade não conta, como no passado, com o
instrumento da intervenção militar. Os protestos de rua de camadas médias que
saem aos domingos, como os da Avenida Paulista e mesmo crises econômicas, não
derrubam governos.
Por isso que as forças conservadoras no Brasil e na região – o
exemplo recente do Paraguai – buscam suas novas formas de golpe na
combinação parlamento-justiça, associadas, como sempre, aos interesses
alienígenas e imperialistas hegemônicos.
O centro de gravidade é na política. Agora, o motivo alegado de
rebaixamento do Brasil pela S&P é a incapacidade do governo Dilma de reunir
condições políticas para aprovação do ajuste fiscal e retomar o crescimento. A
tensão do embate político é usada para alimentar a alta do dólar. E assim por
diante.
O governo Dilma chegou a um momento decisivo: amplos setores do
consórcio oposicionista, almejando ansiosamente sua volta ao centro do poder,
não somente se concentram em desconstruir o governo Dilma, mas,
desesperadamente ousam até desconstruir o país e instigar o caos econômico; e
já conseguem dar fórum oficial ao rito processual do impeachment, buscando
estabelecer manobras que permitam alcançar os seus propósitos.
É nesta hora que a presidenta Dilma, depois de muitos percalços e certos
equívocos, começa dar passos positivos para recompor o seu governo a fim de
paralisar a instabilidade política e a ameaça golpista. Os primeiros lances
consistiram no êxito em manter os 26 vetos presidenciais, evitando grave
descontrole orçamentário. Nova votação de outros 6 vetos está anunciada para a
próxima quarta feira.
Os primeiros sintomas de que a iniciativa da presidenta estava sendo
bem-sucedida é a demonstração do berreiro negativo ressoado pelas forças
oposicionista e seu aparato midiático dominante.
Assim é que, nestes últimos dias, o esforço desempenhando pela
presidenta, através de persistente diálogo com os aliados, para reconstrução do
governo, dando passos certeiros é solapada por eles, em versões vincadas pelo
tom de que Dilma divide o PMDB, que é uma tentativa de rachar o partido, que a
presidenta não faz outra coisa senão inventar um confronto, ou arrastar Lula e
o PMDB para o seu “labirinto”, no qual estaria enredada.
É um apelo gritante à desconstrução permanente, ao impasse político, à
trama favorável ao apelo golpista.
Tudo isso, já antes de uma versão verberada de que a última conversa de
Lula com a presidenta teria tido como resultado a “rendição” de Lula, o qual
impunha à presidenta a necessidade de sua “renúncia”. Na realidade o verdadeiro
labirinto é o estágio atual a que chegou o jornalismo político no país,
impulsionado pelos interesses oposicionistas escusos e abertos da mídia
hegemônica.
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