07 setembro 2015

Uma crônica para descontrair

O rádio e a antecipação da notícia

Luciano Siqueira, no Jornal da Besta Fubana
Fernando Sabino diz numa de suas crônicas que o rádio entrou na residência dos brasileiros pela sala de visitas e foi parar na cozinha, com o advento da televisão.
Aqui em casa, não exatamente na cozinha, no banheiro. Porém não relegado a uma condição inferior, vez que é muito mais ouvido do que vista é a TV. 
Desde cinco horas da manhã, quando tomo o primeiro banho antes da caminhada matinal. Ali, sempre presente, de domingo a domingo, anunciando os acontecimentos do dia e difundindo comentários de tudo o que é gente metida a entendida nos mais variados assuntos. 
Testemunho assim a importância do rádio na formação da consciência política do nosso povo. 
Não só do rádio, mas dos meios de comunicação como um todo: a TV e os jornais, e também os sítios na Internet, guardam uma relação simbiótica com o rádio, um alimenta os demais e vice-versa. 
O rádio confirma ou antecipa a notícia. Dependendo da hora em que o sintonizemos. 
Na madrugada, os jornais do dia já não terão tempo de registrarem o que ocorreu em Estocolmo, Atenas ou Mossoró, naquele instante; mas o rádio sim, pois a informação terá sido captada em tempo real, via Internet e de imediato repassada aos ouvintes. 
A “antecipação” da notícia às vezes é precipitada pela ansiedade de quem a transmite. Vira premonição. Como aconteceu com um jovem repórter da Rádio Jornal, no Recife, em meados dos anos 80, quando eu exercia o meu primeiro mandato de deputado estadual, colado às lutas populares em ascensão. Uma espécie de plantão permanente, para o que desse e viesse. 
Um pé na Assembléia Legislativa e o outro nas ruas.  
Foi na ocupação do conjunto habitacional Montes Verdes, no Ibura. Transmissão ao vivo.  O repórter narra a chegada do Batalhão de Choque da Polícia Militar, enviado pelo governador Roberto Magalhães, e o tumulto que se instala – gritaria, corre-corre, choro de crianças, vozes exaltadas:  
- Há muita confusão, senhores ouvintes, pessoas podem ser feridas. Como sempre acontece, o deputado Luciano Siqueira já se encontra no local e, segundo lideranças comunitárias ouvidas pela reportagem, já teve um entrevero com o capitão Viana. 
- Então ouça o depoimento do deputado – pede o locutor do estúdio. 
- Ainda não é possível.  O deputado parece estar encoberto pela poeira que se levanta no local do conflito, onde alguns policiais foram agredidos a pedradas. 
- Ele foi agredido pelos policiais? É importante verificar isso. 
- Vamos verificar, vamos verificar... e dentro de alguns minutos ele dará entrevista exclusiva para nossa emissora.  

Mas não tinha jeito de encontrar o deputado, que ouvia tudo pelo rádio do carro, ainda se deslocando de casa para o bairro, agora o mais rápido que podia – para cumprir o dever. E não frustrar o repórter e os seus ouvintes.  
Ilustração: do site ourinhosnoticias.com.br 

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