Fábio Lucas Oliveira, no Jornal GGN
Cansado de
tantos placares e notícias que parecem mais querer influenciar a decisão do que
propriamente fornecer bases sólidas para uma avaliação coerente, resolvi eu
mesmo fazer um raciocínio numérico sobre a decisão de domingo, em relação ao
impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Para
facilitar, resolvi contar os votos governistas, que precisam ser de apenas
33,3% (172 votos) dos deputados federais. Faço uma conta pessimista, do ponto
de vista do governo, que é quem precisa do menor número. Desta forma, consigo
uma margem de erro bem baixa. Não podemos esquecer que quem deve buscar os
votos certos é a oposição, já que a abstenção – legítima no processo democrático
-, favorece o governo.
Vamos partir
do princípio de que o governo começa com todos os votos do seu partido (o PT) e
do PCdoB, certo? Logo, Dilma parte de 68 votos (57 + 11).
Já há uma
manifestação clara dos parlamentares do PSOL que, embora não apoiem Dilma,
consideram o impeachment um “golpe institucional”, conforme nota da bancada.
Todos os 6 parlamentares já se pronunciaram . Logo: 68 + 6 = 74.
A Rede
Sustentabilidade se posicionou contra Dilma, por meio de Marina Silva. Mas 2 de
seus parlamentares - Aliel Machado (PR) e Alessandro Molon (RJ) - já se
posicionaram contra o impeachment, inclusive na comissão de admissibilidade.
Temos: 74 +2 = 76.
O PSB saiu do
governo em 2013. Logo, dos seus 30 votos, 3 se declararam contra o impeachment.
Então: 76 + 3 = 79.
O PDT tem 20
votos, mas 2 se declararam a favor do impeachment. Dos restantes, 7 estão
indecisos e 12 se declararam a favor de Dilma. Mas, um deles (Flávio Nogueira -
PI), é suplente e deve sair para ser substituído pelo titular do mandato. Como
ele não se posicionou, sobram 11 certos, na pior das hipóteses: 79 + 11 =
90.
O PP orientou
voto a favor do impeachment, mas avisou que não haverá punição para dissidentes
e abriu uma votação interna. Nela, dos 51 parlamentares, 9 se posicionaram ao
lado do governo. Então, temos 99 + 9 = 99.
O PSD foi o
assunto do dia. Seu líder, que é o presidente da comissão do impeachment, disse
que, após consulta à bancada, está contra Dilma. Mas não divulgou números. 5
deputados fizeram manifestações públicas a favor de Dilma e 15 estão indecisos,
sobrando 17 que podem ser contabilizados contra a presidente. Vamos somar só os
5: 99 + 5 = 104.
O PRB tem 22
parlamentares. Apenas 1 se posicionou a favor de Dilma e ainda existem 9
indecisos. Se todos esses se posicionaram contra Dilma, sobrará apenas 1.
Improvável, mas sigamos pessimistas: 104 + 1 = 105.
Do PTN, 4
deputados são a favor do impeachment, 6 estão indecisos e 3 são contra.
Mantenhamos nosso raciocínio o pior possível, do ponto de vista do governo: 105
+ 3 = 108.
No PTB, dos 19
parlamentares, 4 do nordeste - Arnon Bezerra (CE), Adalberto Cavalcanti (PE),
Paes Landim (PI) e Pedro Fernandes (MA) - ficam com Dilma e o partido já
anunciou que não haverá punição. 108 + 4 = 112.
No Prós, houve
uma articulação para que os parlamentares a favor do impeachment fossem
substituídos pelos suplentes na comissão de admissibilidade. Os 2 eram a favor.
A bancada é de 5 e 3 estão contra o impeachment. Logo, 112 + 3 = 115.
No PT do B,
dos 4 parlamentares, 1 está indeciso e 2 são a favor do impeachment. O que
sobra é vice-lider do governo na Câmara e já se manifestou na comissão de
admissibilidade contra o impedimento. 115 + 1 = 116.
No PHS também
há apenas um apoio já declarado, da bancada de 7. 116 + 1 = 117.
No PTN, da bancada
de 13, 2 deputados já se posicionaram contra o impeachment e 4 estão indecisos.
Mantenhamo-nos pessimistas: 117 + 2 = 119.
No PEN, há 2
deputados e cada um está de um lado. Continuemos a conta dos votos do governo:
119 + 1 = 120.
No PMDB, 12
parlamentares já se posicionaram contra o impedimento. Ainda devem voltar os 3
parlamentares que ocupam ministério e o partido deve perder mais um voto para o
PT, de Patrus Ananias (MG), que também deve voltar para a votação, tirando um
indeciso do processo. Para facilitar a conta matemática, vamos acrescentar o
voto de Patrus à conta do PMDB. Logo, ficamos com 120 + 16 = 136.
No PR, fala-se
em “ampla maioria” contra o impeachment. Segundo o líder, recém-eleito depois
de conversas do partido justamente para ajustar o posicionamento, a legenda
teria, dos 40 votos, 28 favoráveis a Dilma. 136 + 28 = 164.
Ou seja,
faltando 3 dias para a votação, o governo tem, pelo menos, 166 votos. Vejam
como o número é diferente dos 113 da Globo, 128 da Veja ou os 112 do “Mapa do
Impeachment”. Isso sem contar os indecisos que, como disse lá no começo do
texto, podem aderir ao governo ou oposição na última hora ou simplesmente não
votar, inviabilizando o impeachment.
Percebem a
manipulação dos veículos de comunicação? Dizer: “O governo vai perder a
votação, porque cresce a cada minuto a bancada pró-impeachment”, ou ainda “
Governo já admite derrota” é bem diferente de dizer que nenhum dos lados
iniciará a votação com vitória certa.
Será uma
disputa voto a voto, decidida na última hora, e hoje o governo está mais perto
da vitória. Repito: pode mudar, mas HOJE o governo tem mais chances matemáticas
do que a oposição.
É esse “pode
mudar”, que falei acima, o grande diferencial. Há uma tentativa de forçar um
clima entre os deputados e na sociedade, uma vez que a vitória de Dilma, apesar
de toda a pressão, se coloca no horizonte. Agora, imaginem com que cara ficarão
Globo, Temer, Cunha, Moro e Gilmar, depois de tanta exposição, se perderem no
Congresso? Bate um desespero, certo?
Fábio
Lucas Oliveira – Formado em jornalismo, ex-editor de política em jornais
impressos e eletrônicos de Brasília, Campinas e Santos. Hoje é pequeno
empreendedor do ramo de construções em Campinas (SP) e se dedica à política
apenas quando acha importante desmistificar práticas antiéticas na cobertura
jornalística.
Um comentário:
Estou cada vez mais angustiada. Que Fabio esteja correto.
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