Renato Rabelo, no Blog do Renato
O vergonhoso
dia 17 de abril já é uma marca histórica do novo tipo de golpe de Estado,
expressão do DNA da direita, constante na história política do Brasil. O
espantoso enredo que culminou neste dia fatídico descobriu na atualidade as
entranhas do conservadorismo de direita no Brasil, sua ideologia e seus métodos
políticos enraizados desde a origem da casa grande, passando pelo selo do
período histórico do capitalismo “retardado”, resultando no sistema político
predominantemente elitista, patrimonialista e umbilicalmente subordinado ao
poder econômico dominante. Nem os ares democráticos que bafejaram a
Constituição de 1988, derrotando o autoritarismo ditatorial, alcançaram
reverter essas dominâncias.
O strip-tease
que abrangeu o conservadorismo nacional, a direita e a ultradireita,
desvendando seu primarismo e estupidez, todos unidos fervorosamente na ânsia de
destituir a presidenta Dilma Rousseff – realmente o que se passou foi uma
inconstitucional eleição indireta — sendo um momento que, de forma
concentrada espelhou quem é a maioria da Câmara dos Deputados: lídimos
representantes, vistos em viva fisionomia e viva voz, da elite conservadora
brasileira e muitos expressando seu pensamento retrogrado e fascista. Glória a
minoria que se impôs de forma digna e corajosa à investida antidemocrática.
A maturidade
da consciência social e da elevação da consciência política do povo e da
sociedade em geral tomam maior saliência em determinados períodos históricos de
maiores conflitos, ou mais precisamente de maior intensidade, da velha de
guerra, luta de classes. Mas, sobretudo, em momentos que sintetizam décadas,
como o espocar do acontecido no domingo de 17 de abril. Daí o espanto e grande
impacto causado, provocando maior indignação dos defensores da democracia, e um
choque de consciência em grandes parcelas da população, dos que já desconfiavam
da trama golpista em marcha e, mais, dos que eram permeáveis ao impeachment
golpista, porém não tinham noção do que seria e de quem veria após a derrubada
da presidenta da República.
O espetáculo
chefiado e encenado, sob a condução revestida de bazófia, pelo presidente da
Câmara – o corrupto mor, envolvido em múltiplos delitos, réu em julgamento no
STF – com toda a nudez tornada exposta, impactou o Brasil e o mundo. A imprensa
mundial, tanto na Europa como nos Estados Unidos e demais regiões, não entrou
na versão ilusória da mídia grande do Brasil, dominada pela oligarquia de
direita brasileira. Ao contrário denunciou amplamente o complô golpista.
A assimilação
incisiva desse momento político dramático desenrolado na Câmara dos Deputados
pode levar a mudança significativa na compreensão e atitude da maioria da
população diante da conspiração e da aparente traição que poderá levar à
deposição da presidenta da República. A vitória do pré-golpe festejada
acerbamente pelos defensores do impeachment fraudulento e eivada de desvio de
poder, sem comprovação de crime de responsabilidade da presidenta da República,
pode ser o tiro que sai pela culatra nos desígnios da oligarquia de direita e
seus acólitos, mesmo no caso em que a presidenta venha a ser destituída. A
presidenta Dilma cresce nesse período de maior conflito. Tem sido um polo
determinante da resistência por sua determinação e coragem.
Os
desdobramentos da situação atual serão imprevisíveis, sendo uma burla, pura
fantasia, uma quimera a suposta pacificação, credibilidade e estabilidade
prometida pelo pretenso governo Temer-Cunha. Tal governo não se livrará do seu
pecado original de golpista e de ilegítimo. Já está marcado como assaltante do
poder de Estado, numa nova forma de golpe encoberta por um invólucro
“institucional”. E, pelo cariz de seus condutores, são crescentes as vozes que
chamam a atenção do risco elevado de assalto aos cofres públicos.
A revelação do
curso da conspiração golpista, didaticamente demonstrada na sessão de domingo
da Câmara dos Deputados e, sua sequência agora, que pode vir a ser consumada no
Senado, e se tiver a desgraça do Nihil
obstat ou o beneplácito do STF, é uma tentativa desesperada de um
novo pacto político, à direita. Cuja tendência seria pela prevalência de grande
instabilidade política, maior descrença e uma volta à política ultraliberal da
década de 1990, que tanto infelicitou o país.
Em contraste,
cresce e se afirma a consciência democrática e patriótica no país
crescentemente demonstrado em manifestações e atos públicos e massivos. Surge
um novo período que abre caminho para organização de um movimento de maior
unidade das forças e de personalidades de afinidades de esquerda. Nesse
sentido, são elucidativas as manifestações e mobilizações em crescimento das
bases populares, de jovens e mulheres, e notadamente o fortalecimento das
frentes Brasil Popular e Povo sem Medo. Do redimensionamento do campo
partidário de esquerda e das novas lideranças que se forjam em consonância com
o novo tempo da luta democrática, popular e progressista. A conspiração da
direita e sua tentativa aventureira de estar a qualquer modo no centro do
poder, em contrapartida, acabam forjando uma oposição democrática e popular
mais consequente, capaz de extrair lições e mais preparada para os novos
desafios.
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