Charge de Nani
Quem pergunta
demais descobre o que não quer
Fernando Nogueira da Costa, Jornal GGN
O czar da
Economia pronunciou o título deste artigo. É uma lapidar sentença de um governo
moribundo em apenas dois meses.
Foi na posse da mais jovem presidente da história do IBGE, a
economista Susana Cordeiro Guerra, 37 anos, inexperiente em gestão de pesquisas
estatísticas. Nascida em San Francisco (EUA), foi criada no Rio e pertence a
uma família com negócios no ramo imobiliário. Formada na Universidade de
Harvard em 2003, Susana fez doutorado pelo Instituto de Tecnologia de
Massachusetts (MIT, na sigla em inglês). Bastou para ser nomeada por um governo
do partido do laranjal, ou seja, sem quadros técnicos, o fato dela ser amiga da
filha do ministro Paulo Guedes.
Favoritismo e
nepotismo: este é o governo do capitão. Nepotismo é um termo utilizado para
designar o favorecimento de parentes ou amigos próximos em detrimento de
pessoas mais qualificadas. Diz respeito à nomeação para cargos públicos e
políticos.
“Quem pergunta demais descobre o que não quer”. O super-ministro
não quer “descobrir” o Brasil. Algumas informações sobre a realidade brasileira
lhe são inconvenientes. Por exemplo, qual é a fortuna obtida por banqueiros de
negócios sem nunca terem adicionado valor produtivo de renda e emprego à
economia, só apropriado em transferências de propriedades. Ele ainda não
liberou os dados do imposto de renda 2018-AC 2017. É de interesse público,
porém, revelar “que país é este”.
O ministro é um reducionista. Reduz temas complexos,
desconhecidos por ele, a uma frase “ixxxpiiierta” (à la humor carioca), ou
seja, revela uma cultura oral de orelhada. Afirmou “países ricos” terem
questionários censitários mais enxutos se comparados ao brasileiro. Ora, os
países ricos dispõem de muito mais dados administrativos acessíveis ao público,
substituindo parcialmente ao Censo. Não é o caso do Brasil.
Aqui, é a única fonte de informações desagregadas por municípios
e até por bairros. O Censo Demográfico não é só imprescindível para elaboração
de políticas públicas federais, estaduais e municipais, como também para o
planejamento empresarial na análise do mercado brasileiro. A mídia e os
próprios bancos necessitam conhecer a estrutura censitária para fazer suas
pesquisas amostrais para análises conjunturais.
O Censo não permite apenas uma análise pontual, mas também uma
comparação com resultados passados. Se coletar menos informações no próximo ano
não permitirá comparações com os censos anteriores, provocando quebra das
séries históricas, não permitindo medição da evolução – ou involução – do país.
Serão duas décadas perdidas nas estatísticas brasileiras por conta de um
governo irresponsável. Não sabe o mal feito a si e aos outros: esta é a definição
de idiota. A palavra idiota vem do grego idiótes, expressão antes usada para
designar quem não tinha consciência da coisa pública.
Um estadista revela grande tirocínio, habilidade e discernimento
quanto às questões políticas, à administração do Estado. É uma pessoa versada
nos princípios ou na arte de governar, ativamente envolvida em conduzir um
governo ou moldar a sua política. Este “homem de Estado” exerce liderança
política com sabedoria e sem limitações partidárias. Dois meses já bastaram
para ver a irresponsabilidade de 55% dos eleitores.
Na primeira derrota ao governo do capitão no plenário, a Câmara
dos Deputados derrubou o decreto assinado pelo vice-presidente, Hamilton
Mourão, logo no dia 24 de janeiro de 2019. Tinha alterado as regras de aplicação
da Lei de Acesso à Informação, permitindo ocupantes de cargos comissionados da
gestão, em muitos casos sem vínculo permanente com a administração pública,
classificar dados do governo federal como informações ultrassecretas e
secretas!
Talvez o velho chicagão (Chicago’s Old) possa aprender algo com
a jovem doutora do rival MIT, se ela tiver assistido às aulas de Cesar Hidalgo
– e aprendido. Ele é um físico chileno do MIT Media Lab. Hidalgo, juntamente
com um grupo de pesquisadores de Harvard e do MIT, realizou um estudo sobre
Complexidade Econômica.
Hidalgo apresenta um novo paradigma ou modelo mental sobre o
mundo. O conceito central é a informação se opor a entropia. A informação está
relacionada à “ordem física”. O diferencial do planeta Terra é a disponibilidade
de informação.
Esse raciocínio instiga a releitura da Economia, não por
elementos tradicionais como capital e trabalho, mas por elementos tradicionais
da Física, como energia, matéria e informação. A tese central de Hidalgo é o
crescimento das economias ser explicado pelo crescimento da informação. Sendo
assim, para entender porque as economias crescem, é necessário entender os
mecanismos pelos quais a informação aumenta, viu, Guedes?
Graças ao engenho de seres humanos e à combinação de conhecimento e know-how são produzidas intrincadas combinações de átomos em objetos (bens) representativos de informação armazenada. Os processos capazes de permitirem às pessoas (ou grupo de pessoas) produzirem objetos ou encapsularem informação envolvem a formação de uma rede profissional e social capaz de acumular e processar conhecimento e know-how. Conhecimento envolve o relacionamento ou ligações entre informações. Já know-how refere-se ao conhecimento tácito, ou seja, à capacidade de realizar ações.
Graças ao engenho de seres humanos e à combinação de conhecimento e know-how são produzidas intrincadas combinações de átomos em objetos (bens) representativos de informação armazenada. Os processos capazes de permitirem às pessoas (ou grupo de pessoas) produzirem objetos ou encapsularem informação envolvem a formação de uma rede profissional e social capaz de acumular e processar conhecimento e know-how. Conhecimento envolve o relacionamento ou ligações entre informações. Já know-how refere-se ao conhecimento tácito, ou seja, à capacidade de realizar ações.
A dedução desse raciocínio leva ao entendimento da Economia como
um sistema coletivo e social pelo qual os seres humanos fazem a informação
crescer. Se existe informação embutida em objetos, os objetos produzidos por
pessoas são “cristais de imaginação”. Tais produtos ou objetos representariam
aplicações ou a materialização de conhecimento, know-how e imaginação.
Assim, para Hidalgo, o desenvolvimento econômico está
relacionado às capacidades das economias não de comprar, mas sim de “produzir
informação”. Para fazer a “informação crescer”, ou seja, para produzir a
cristalização de pensamentos de pessoas em objetos tangíveis, é necessária a
capacidade de computação, isto é, processos de transformação das informações.
Alô, alô, Guedes, o input censitário é fundamental para o processamento
inteligente gerar output necessário à vida pública – e empresarial!
Por sua vez, a capacidade de computação requer o bom
funcionamento de redes sociais de interação entre pessoas ou grupos de pessoas,
sendo afetado por instituições e tecnologias. Das interações entre todos esses
componentes, em diversos níveis de escala, emerge um Sistema Complexo, porém,
passível de ser interpretado via simplicidade analítica. Esta é a atual e
desafiante fronteira do conhecimento, ‘tá entendendo, Guedes?
O conhecimento e o know-how estão “aprisionados” nas mentes e
nas redes formadas pelos agentes econômicos. As tecnologias aos poucos reduzem
restrições dadas por fronteiras nacionais, facilitando a comunicação e
“encurtando” distâncias.
No entanto, como a socialização de informações e/ou
conhecimento, sob forma de know-how, é ainda um fenômeno com grande
especificidade local, então, eles acabam se acumulando em determinados espaços
geográficos. Para Hidalgo, as diferenças de conhecimento e know-how entre
nações explicam a desigualdade econômica mundial.
Como as pessoas adquirem conhecimento e know-how? As pessoas
aprendem, isto é, adquirem conhecimento e habilidades de outras pessoas, sendo
muito mais proveitoso para nós aprender de pessoas detentoras de experiência em
tarefas ou ações cujo aprendizado é desejado.
A diversidade de conhecimento e know-how é fator determinante da
capacidade de produção de informações mais complexas, isto é, “cápsulas de
conhecimento” com mais know-how embutido. A formação de redes de
relacionamentos, inclusive internacionais, desempenha um importante papel no
emprego dessa diversidade. Essas redes são científicas – e não tuítes,
feicebuques e uotzaps, viu, capitão e bolsonaristas?
Know-how é um termo em inglês com o significado literal de
“saber como”. É um conjunto de conhecimentos práticos (fórmulas, informações,
tecnologias, técnicas, procedimentos, etc.) adquiridos por uma empresa ou um
profissional. Em economia de mercado, traz para si vantagens competitivas.
Possui know-how, por exemplo, a organização empresarial capaz de
dominar um nicho de mercado por apresentar conhecimento especializado sobre
algum produto ou serviço não possuído pelos concorrentes. Ele está diretamente
relacionado com inovação, habilidade e eficiência na execução de determinado
serviço. É um produto valioso resultante da experiência acumulada por
cientistas e técnicos, inclusive sábios-tecnocratas, em processamento de
informações diversas de distintas áreas.
Atualmente, além do know-how, uma empresa ou um país para serem
bem-sucedidos devem possuir o “know-why” (saber porquê), isto é, saber o motivo
porque algo é feito de determinada maneira. Por isso, novatos inexperientes em
gestão pública e geopolítica não podem chegar e, arrogantemente, “sentar-na-janelinha”.
Um péssimo exemplo dessa inabilidade ideológica e diplomática
está sendo dado na fronteira com a Venezuela. Mancomunado com colombianos e
norte-americanos, este governo submete-se a um acordo com Trump para a
consecução de algo irresponsável e letal: provocar uma guerra civil e
justificar uma intervenção militar desse conluio do mal, cuja finalidade é o
controle da enorme reserva de petróleo da Venezuela.
*Fernando Nogueira da Costa é professor titular do IE-UNICAMP.
Autor de “Métodos de Análise Econômica” (Editora Contexto; 2018).
ü
Acesse e
se inscreva no canal ‘Luciano Siqueira
opina’,
no YouTube https://bit.ly/2Vg5szX
ü
Leia mais
sobre temas da atualidade http://migre.me/ kMGFD
Nenhum comentário:
Postar um comentário