Brasil está a pouca distância de uma tragédia monstruosa
Os ditos de Bolsonaro e seu grupo
são demonstrações de alienação
Janio de Freitas, Folha de S.
Paulo
Com a histórica indiferença por seu destino, o Brasil está a
caminho de todos os recordes negativos cabíveis na pandemia, já alcançados
alguns deles. Como a rapidez de disseminação e a mais deficiente
comunicação/conscientização dos riscos, orientadas por um governante (sic) que
se dedica a incitar e encabeçar aglomerações com propostas criminalmente
golpistas.
Como
consequência lógica, o Brasil está a pouca distância de uma tragédia
monstruosa: a população
indígena corre o risco de sucumbir a um genocídio. Bolsonaro
desconstruiu a sempre mínima rede de setores governamentais voltados, ainda que
em parte, para alguma assistência aos remanescentes de brasileiros originais.
Corte de recursos, demissões numerosas, entrega de cargos a
militares despreparados e apoio a grileiros, desmatadores, madeireiros e
garimpeiros ilegais já compunham as bases da tragédia continuada e agravada.
O
descaso por providências emergenciais para a proteção contra a virose
mortífera, tratando-se da mais vulnerável população, é o cume da política de
crime governamental. Não é novidade, mas nunca foi tão descarada.
Diz
o general
Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, que Bolsonaro é apenas
“reativo”, os outros é que lançam os ataques. Esse ministro não entende que
políticas são agressivas ou defensivas, responsáveis ou até criminosas, nas
relações de governo e população.
Reativas
são as críticas a Bolsonaro, que não precisou chegar ao título de presidente
para agredir o país em atos e palavras desumanas, racistas, de violência e uso
de armas.
O próprio
general Ramos comete agressivas atitudes contra a Constituição, a democracia e
os cidadãos em geral. Sua última encenação é uma botinada na
legalidade constitucional, com a afirmação de que os militares não pensam em
golpe desde que a oposição “não estique a corda”.
E
o que foi que o general esticou, ao dizer inverdades para servir a Bolsonaro no
depoimento sobre a reunião dos desvairados? Inverdades que o levaram a correr
com um pedido para retificá-las, prevenindo-se de processo por falso
testemunho.
Mas
minha preferência, entre as produções verbais do general Ramos, é sua resposta
a certa dúvida sobre uma atitude de Bolsonaro: “Conheço há muito tempo aqueles
olhos azuis...”. Só não sei o quanto a resposta clareou alguma dúvida. Ou
aumentou-a.
Quaisquer que sejam, os ditos de Bolsonaro e seu grupo são
demonstrações de alienação. Autêntica e insolúvel. Não é o caso do que diz, por
exemplo, o presidente do Supremo, Dias Toffoli, diante das realidades brutais
trazidas por Bolsonaro e sua tropa. “Algumas atitudes [de Bolsonaro] têm
trazido uma certa dubiedade, e essa dubiedade impressiona e assusta a sociedade
brasileira.”
Só isso? O ministro do Supremo nada vê além disso?
Só isso? O ministro do Supremo nada vê além disso?
Esse
é um pronunciamento que a nenhum integrante do Supremo deveria ser permitido,
em tempo algum. Acovardado, mentiroso, nem ele e seu autor são dúbios, como
Bolsonaro não é. Quando todos atentam para as ideias e manifestações
antidemocráticas e contrárias à Constituição, de Bolsonaro, filhos & cia.,
Dias Toffoli desce a dizer-nos que tem “certeza, em todo o relacionamento
harmonioso que tenho com sua excelência, com seu governo e com o
vice-presidente Hamilton Mourão, [...] que eles são democratas. Merecem o nosso
respeito”.
Dias
Toffoli abre mão do nosso respeito. A que troco, não está claro. Uma carreira
política, talvez, uma vice para começar. Com o democrata Bolsonaro, quem sabe,
ou alguém entre os vários que veem o retrocesso do país, a invasão dos meios de
administração por incapazes e desatinados, riscos entre o de genocídio indígena
e o de problemas internacionais perigosos —veem, mas jamais passam de umas
poucas palavras de crítica leve, se chegam a isso, para voltar pouco depois às
conveniências da ambição.
Que
assim é, em nove exemplares sobre dez, a gente importante hoje circulando no
Brasil.
Barrar Bolsonaro é possível https://bit.ly/2MwcqOP
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