06 outubro 2020

Inflação aumenta no varejo

Alta do preço de alimentos ganha força e analistas já veem IPCA perto de 2,5%”
Matéria do Valor Econômico com informações interessantes, porém carente de uma análise mais profunda. Útil para a compreensão da crise econômica. (LS)

Em nível já pressionado, os preços de alimentos devem ganhar fôlego adicional no fim do ano, o que levou mais economistas a revisar seus cenários de inflação. O consenso de mercado para alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2020 subiu ligeiramente entre a semana passada e a atual, de 2,05% para 2,12%, mas instituições como J.P. Morgan e Credit Suisse passaram a esperar aumento próximo de 2,5%.

Por ora, a percepção é que o choque será de curto prazo e, por isso, não deve afetar a inflação em 2021. A mediana de estimativas para o avanço do IPCA no próximo ano segue em 3%, nível em que vem oscilando desde meados de junho. Os dados são do Boletim Focus, do Banco Central.

A inflação de alimentos deve acumular alta de cerca de 8% no último quadrimestre, o que vai praticamente zerar a defasagem em relação aos preços no atacado, avalia o J.P. Morgan.

Em relatório divulgado ontem, o banco informa que elevou a projeção para o aumento do IPCA em 2020 de 2% para 2,4%. Segundo os economistas Vinicius Moreira e Cassiana Fernandez, a aceleração nas cotações de alimentação no domicílio causou ajustes para cima em todas as estimativas de inflação mensal. Agora, o banco projeta que o índice vai subir 0,60% em setembro; 0,56% em outubro; 0,21% em novembro e 0,30% em dezembro. “Temos visto aceleração significativa dos preços de alimentos em levantamentos de alta frequência e índices semanais nos últimos dias, o que acreditamos ser o começo de um acentuado processo de convergência entre os preços agropecuários no atacado e preços de alimentos ao consumidor”, apontam Moreira e Cassiana.

Em setembro, estimam os economistas, a parte de alimentação em casa deve subir mais de 3%. A inflação de alimentos deve contribuir com três quartos do “índice cheio” do mês, calculam. Também nesta segunda-feira, os economistas Solange Srour e Lucas Vilela, do Credit Suisse, passaram a prever alta 0,3 ponto percentual maior para o IPCA deste ano, que deve ficar em 2,4%. Além dos alimentos, Solange e Vilela citam a reversão parcial da deflação de combustíveis e os preços maiores de passagens aéreas como motivos para a revisão. Em 2020, os preços de alimentação no domicílio devem avançar 14,5%, um ponto acima do previsto anteriormente, observam Solange e Vilela. Na quinta-feira passada, Bradesco e BTG Pactual publicaram revisões de cenário em que as expectativas para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e no próximo foram mantidas, mas que trouxeram projeções maiores para o índice oficial de inflação de 2020. De acordo com o Bradesco, a retomada econômica “em duas velocidades” vem gerando pressões pontuais.

O banco mudou a estimativa para a alta do IPCA em 2020, de 1,9% para 2,4%, devido à aceleração dos alimentos no curto prazo. Para 2021, a projeção segue em 3,1%, mas os economistas da instituição veem “riscos altistas” no número, “em especial da incerteza quanto à formação de preços de serviços e do potencial realinhamento de preços administrados”.

Para o BTG Pactual - que agora espera alta de 2,5% do IPCA neste ano, mais que o 1,9% anteriormente -, a maior parte das pressões inflacionárias está restrita aos preços de alimentação domiciliar, ao passo que itens mais relacionados à atividade continuam rodando em patamares baixos e com poucos sinais de aceleração na margem. O banco afirma, porém, que a estimativa de avanço de 3% para o índice no ano que vem tem viés de alta.

Já Moreira e Cassiana, do J.P. Morgan, dizem que o choque nos preços dos alimentos não vai resultar em aumento dos núcleos de inflação, que buscam eliminar ou reduzir a influência dos itens mais voláteis. De acordo com os economistas, a média dos núcleos deve encerrar 2020 com taxa inferior a 2% (1,7%). “Também acreditamos que essas pressões específicas e de curto prazo não vão contaminar a inflação de 2021”, acrescentam os economistas, que seguem esperando alta de 3,2% para o IPCA no próximo ano. “O maior risco de médio prazo para a inflação está no debate fiscal.”

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