12 abril 2016

Temer energúmeno

Sem decoro nem ética
Luciano Siqueira, no Blog da Folha

Antes foi uma carta mal elaborada que transpirou para imprensa. Ontem, uma mensagem de áudio absolutamente comprometedora.
Lamentáveis sob todos os títulos, sendo o autor vice-presidente da República.
É fato que a composição do comando de um governo — seja a presidência da República, o governo estadual ou a prefeitura — expressa aliança entre partidos.
Alianças políticas em geral são conjunturais, podem se consolidar ou se esgarçar conforme a evolução dos acontecimentos. Isto vale em qualquer circunstância, particularmente em situação de crise.
É fato que o PMDB, por razões que boa parte da opinião pública conhece — numa postura típica de partido centrista e internamente subdividido — afastou-se formalmente do governo.
Também é fato que Michel Temer, acumulando a dupla condição de vice-presidente da República e de presidente nacional da sua agremiação, atua nas duas instituições — para o bem ou para o mal.
Igualmente sabe-se que, meses atrás, o próprio Temer esteve à frente da elaboração de um projeto para o país distinto do acordado quando da renovação da chapa presidencial vitoriosa no último pleito.
A dimensão em que essa situação, de certa maneira híbrida, vivida entre o governo e o PMDB e entre a presidenta e o vice-presidente, ainda que delicada, pode até ser compreendida sob o prisma das divergências políticas. 
Porém na carta à presidenta, que o próprio Temer cuidou de vazar para imprensa, numa tentativa infantil — para não usarmos expressão mais dura — de se fortalecer politicamente em meio à crise então instalada, se evidencia a pequenez do ocupante do cargo.
Ali, em razão de pleitos de natureza eminentemente fisiológica, no pior estilo da tradição clientelista, aquele que se supunha co-responsável pelos destinos da nação se ajoelha e se apequena.
Agora, na gravação em áudio, tornada pública mais uma vez pelo próprio autor, torna-se nítida e irrefutável a sua participação em manobras de caráter golpista, destinadas afastar Dilma da presidência da República.
Desse modo, o princípio elementar a ser observado por um companheiro de chapa e de gestão — o da lealdade — é posto na lama.
Divergências envolvem parlamentares, próceres partidários e outros, mas jamais poderiam envolver, da forma como vem acontecendo, o próprio vice-presidente da República.
Decidida a questão do impeachment, virá a difícil tarefa de reconstruir o governo — no caso mais provável do não afastamento da presidenta Dilma. Ou, consumado o golpe, a construção de um governo de transição — tendo o próprio Temer à frente — como defendem peemedebistas e tucanos.
Em ambas as alternativas, Temer não terá estatura política, ética e moral para assumir o papel que lhe caberá.

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