Wassily Kandinsky
Quando o alvo é o aliado algo está errado
Luciano
Siqueira, no Blog da Folha
No futebol, diz-se "bater cabeça" quando zagueiros do mesmo time se confundem na marcação. Ou a orientação tática está errada, ou próprios zagueiros a desobedecem.
No futebol, diz-se "bater cabeça" quando zagueiros do mesmo time se confundem na marcação. Ou a orientação tática está errada, ou próprios zagueiros a desobedecem.
Na
política é relativamente comum a desorientação tática, sobretudo quando a maré
não está pra peixe. Ou seja, quando a situação é desfavorável e o time está
perdendo. Ao invés de se combater o verdadeiro adversário, muita munição se
desperdiça alvejando aliados.
É como
que se aos aliados coubesse a culpa pelos próprios erros cometidos. Não faz o
menor sentido e ainda piora a situação.
Ora, se
o ambiente é desfavorável e a correlação de forças adversa, por que não conviver
respeitosamente com as diferenças, explorar pontos de convergência e construir
canais por onde se possa adiante restabelecer a unidade necessária?
Este é
um dos desafios que se colocam para as forças do campo democrático e popular na
atual conjuntura política.
O
episódio eleitoral de outubro perpassará o evolver da luta política nacional,
entretanto obedecendo a uma dinâmica própria. Daí o cenário caleidoscópico das
diversas coalizões concertadas pelo Brasil afora.
Prato
cheio para quem deseja exercitar a maturidade e o descortino estratégico e
também prato cheio para quem prefere se embaraçar na contraditória situação
imediata, alimentar a intolerância e o sectarismo, perdendo a perspectiva
estratégica.
Há no
pleito municipal um irrecusável embate de todas as forças de oposição contra
quem governa — incluindo o conflito entre aliados em esfera nacional.
Aí não
reside nenhuma novidade. Nunca as eleições municipais seguiram a lógica de uma
hipotética verticalização das alianças.
Importa,
contudo, distinguir "concorrentes" e "adversários" –
digamos assim - tendo como referência um eventual segundo turno ou mesmo a
futura gestão da cidade.
Mais ainda
tendo como referência a continuidade da luta nacional.
Em
outras palavras, na multiplicidade de desenhos políticos das diversas coalizões
em disputa, toda simplificação mecanicista e todas as formas de sectarismo e
intolerância só contribuem — no campo popular democrático — para agravar uma
situação por si mesma complexa.
Isto é
tão necessário quanto difícil tem sido a luta contra o impeachment da
presidenta Dilma em sua reta final, quase às vésperas da votação definitiva pelo
Senado.
Conquistar
votos decisivos de senadores que optaram antes pela admissibilidade do
impeachment não é possível à base do desaforo.
Nem a disputa
eleitoral municipal pode servir de combustível à desagregação das correntes
democráticas.
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