27 julho 2016

Política real versus mecanicismo

Para além de um samba curto
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10

Definitivamente, a complexidade da sociedade brasileira escapa ao raciocínio reducionista e esquemático. Dando razão a Karl Marx, para quem se a essência se resumisse à aparência não haveria necessidade da ciência.
A título de exemplo vejamos duas situações emblemáticas na cena política atual.
As principais centrais sindicais, de amplo alcance nas estruturas estaduais e locais pelo Brasil afora, se dividem quanto ao impeachment da presidenta Dilma.
As situadas mais à esquerda estão nas ruas defendendo o mandato da presidenta, protestando contra o golpe.
As de perfil conservador, entrelaçadas com a representação parlamentar de centro-direita, apoiam o impeachment.
Porém agora, diante da agenda regressiva do presidente interino Michel Temer, onde se destacam as reformas trabalhista e previdenciária - pré-anunciadas como restritivas de direitos dos trabalhadores -, as dez centrais mais importantes unem-se na resistência.
Ou seja, não há uma linha demarcatória rígida que separe as centrais em qualquer circunstância. Na complexidade da vida, convergem ou divergem. 
Noutra esfera - a das eleições municipais -, legendas partidárias situadas em pólos opostos quanto à questão do impeachment e aos rumos do país, estabelecem coalizões amplas e plurais.
Igualmente neste caso a realidade concreta teima em não se enquadrar a esquemas rígidos.
Assim, as centrais sindicais que divergem sobre a questão nacional convergem na defesa dos direitos dos trabalhadores ameaçados.
E partidos que sustentam opiniões discrepantes sobre a natureza da crise nacional e as alternativas de superação, celebram alianças locais em torno de um programa para a cidade. 
Não há incoerência em ambos os casos.
Há, sim, acertada consideração das peculiaridades da sociedade brasileira, marcada por uma enorme diversidade regional e local — econômica, social, cultural e política.
E embora condenada à percepção fragmentária da realidade pela pressão midiática, a maioria dos brasileiros compreende o sentido das alianças sindicais e partidárias construídas no horizonte imediato e no espaço local.
Pois como diz Paulinho da Viola, "ninguém pode explicar a vida/Num samba curto."

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