09 julho 2016

Novamente sob as rédeas do FMI?

Ah, Ana Maria!
Nagib Jorge Neto, jornalista e escritor

Quando partiu, em meados da década de oitenta, muita gente pensou que jamais voltaria. Vestida de azul, elegante, ela chegava com uma pasta, também uma maleta, lembrando bagagem de retirante, daquelas de "fechar sentando em cima". Sempre distante, nem bonita, nem feia, a expressão não era de encanto, poesia, mas de frieza, rigor, para ver e sentir a dimensão do nosso desencanto.
Assim quase não sorria, nem falava de sua missão, que parecia um mistério, um segredo que sabia guardar. A mídia mostrava sua imagem, seu passo lento, cadenciado, e dava informes sobre carta de intenção, acordo, exame de contas, coisa que a maioria ficava sem entender direito.
Na época, a oposição, a esquerda, tentava mostrar que Ana Maria, com sua elegância, sua pasta, era símbolo da falência do sistema, da ditadura, do seu modelo econômico. Era prova também de perda de soberania, de covardia e submissão do regime, que admitia sua presença como reflexo dos choques do petróleo, da recessão, da crise internacional.
Ana Maria vem, Ana Maria vai, e os homens do Governo defendiam a tese de que sem ela, sem os seus conselhos, sem os recursos que traria, a situação do país seria desastrosa. Afinal, o país estava endividado, sem reservas, e a instituição de Ana Maria - um fundo monetário-, tinha a chave do cofre, das medidas de salvação da economia nacional. A oposição acusou o Governo de entregar os destinos do país a Ana Maria, ao esquema voraz de sua instituição, mas os técnicos, os economistas, pareciam sempre encantados com sua elegância, seus segredos. Prisioneiros do canto de sereia, tentando dourar a crise, viram crescer a oposição, a resistência, que proclamou a Nova República e mandou embora Ana Maria.
Daí surgiram moedas, planos, juras de que Ana Maria tinha deixado o país para sempre. Era a nação soberana, clima de liberdade, desenvolvimento, sem interferência de qualquer instituição, de qualquer moça ou senhora. Enfim, nunca mais aquela fase, fruto dos vícios do autoritarismo, dos erros do seu modelo político e econômico. O tempo passou, a mídia esqueceu Ana Maria, o fundo monetário, e mostrou sempre uma imagem positiva da modernização, das mudanças no país e no mundo. Parte da oposição, da esquerda, fez advertências, alertas, mas suas teses não tiveram eco. A maioria das lideranças acusou os discordantes de evocar fantasmas do passado, de ser uma minoria na contramão da história.
Mas agora Ana Maria volta com outra imagem, com outro nome, com a missão de dar conselhos, garantir recursos, ajudar o país a sair do novo quadro crítico, que é mais grave, dramático, com avanço da recessão. É a vez de Teresa, talvez porque condiz mais com um país bonito, bonito por natureza, que beleza!, um país tropical, ou patropi.
Há silêncio da maioria, informes precários da mídia, também silêncio de muitas lideranças que viam Ana Maria como expressão de perda da soberania, de submissão do país ao Fundo Monetário Internacional. A receita do Fundo exige ajustes, ou seja, mais impostos, juros, demissões, quebradeira e maior desemprego. Ah, Ana Maria, como diabo voltas a pisar este solo na pele de Teresa, também com o aval de muitos que te julgavam maldita?
NOTA – Tem outro nome a nova representante do FMI que esteve com o interino TEMER semana passada.

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