08 julho 2016

Editorial do Vermelho

Os objetivos inconfessados da renúncia de Eduardo Cunha
A renúncia do presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB/RJ) é um desses episódios exemplares que distinguem a política praticada por certos representantes das classes dominantes, daquela feita por políticos ligados ao povo e aos trabalhadores.
O traço marcante de políticos do naipe de Eduardo Cunha são ações que procuram esconder sua verdadeira natureza – ocultar, enganar, tergiversar. Ao contrário dos políticos populares e democráticos, que agem aberta e publicamente, à vista de todos, sem nada a esconder.
Quais são os objetivos de Eduardo Cunha, decididos, tudo indica, juntamente com Michel Temer, seu sócio na empreitada golpista, que o recebeu em segredo, no Palácio do Jaburu, em 26 de julho?
A renúncia de Eduardo Cunha à presidência da Câmara tem, certamente, dois objetivos ocultos.
Um deles é proteger-se a si próprio. Garantir, se possível, a não cassação de seu mandato no processo por quebra do decoro parlamentar que corre contra ele na Câmara dos Deputados. E, com isso, protegê-lo, com o foro privilegiado, no processo no qual é réu no Supremo Tribunal Federal, acusado de apropriação de propinas e outros benefícios ilícitos. Dessa maneira Cunha manteria o mandato de deputado e escaparia do julgamento e da cadeia.
O outro objetivo oculto desta renúncia seria o de dar um verniz de legitimidade ao governo do impostor Michel Temer. Seria uma maneira de enganar o país e os brasileiros dando a impressão de que o governo interino estaria se livrando dos corruptos que articularam o golpe contra a presidenta eleita Dilma Rousseff.
Esta impressão fica mais forte pois a renúncia aconteceu à pouco mais de um mês do julgamento do processo de impeachment da presidenta Dilma pelo Senado.
A renúncia de Cunha faz parte do movimento golpista para convencer os senadores sobre a normalidade e legalidade do governo interino. E, assim, atrair e assegurar seus votos a favor do impeachment.
São os dois pesos e duas medidas da política da classe dominante, difundida como “normal” e “democrática” pela mídia golpista. O afastamento de Eduardo Cunha - amplamente rejeitado pelos brasileiros como símbolo da corrupção e do uso da esperteza contra o povo e os trabalhadores - é apresentado e comemorado por muitos como se fora um avanço que limpa, e legitima, o processo político.
Os brasileiros merecem comemorar como uma vitória o afastamento de Eduardo Cunha. É a saída de cena de um personagem que representa o que há de pior na política brasileira. Não apenas do ponto de vista da falta de honestidade pessoal. Mas sobretudo pelo ataque que liderou contra os direitos políticos, econômicos e sociais dos brasileiros, pela submissão aos interesses das classes dominantes retrógradas e ao imperialismo, pela violência contra a democracia e a ordem constitucional.
Seu afastamento é, assim, uma vitória. Mas uma vitória tardia e parcial, que ocorre às vésperas da cassação de seu mandato pelo plenário da Câmara dos Deputados – vitória previsível que ele tenta evitar ao renunciar à presidência da Câmara.
Sua renúncia que é apenas a aparência de um movimento para esconder a verdade pretendida: proteger o golpe, os golpistas e o próprio Eduardo Cunha. E revelando, mais uma vez, e de forma veemente, a intenção perversa de enganar os incautos.

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