Bolsonaro
promove “revolução conservadora” com fãs armados que não devemos subestimar,
alertam professores da USP
"Não há como imaginar que os
fanáticos que o seguem se restringirão ao plano da retórica, furtando-se de
sacar as armas caso sejam convocados"
Jornal GGN
Jair
Bolsonaro promove uma tentativa de “revolução conservadora” – cuja base social
não deve ser subestimada, porque é formada por seguidores fanáticos,
intolerantes, violentos e, pior, armados – que pode minar a democracia
brasileira a depender do curso da crise de coronavírus.
Ao
contrário de Victor Orbán, na Hungria, que reconhece e manipula a ameaça
sanitária para fortalecer ainda mais seu projeto autoritário, Bolsonaro nega a
pandemia e usa o isolamento político recente para reforçar a tese de que é
vítima de um sistema que, ao mesmo tempo em que enfrenta a doença que ele nega,
coloca seu governo e a economia nacional em xeque.
Na
Folha desta segunda (27), oito professores da USP alertam para as consequências
dessa revolução em marcha.
“Apesar
de ser uma aposta de altíssimo risco, ela poderá prosperar a depender da
longevidade e gravidade da crise. Somando-se o culto quase religioso à
personalidade de Bolsonaro com o fato de parte significativa dos apoiadores
estar armada, concentrando-se nas fileiras inferiores do Exército (cabos, sargentos,
tenentes e capitães), nas polícias e nas milícias, temos uma combinação
explosiva para contextos de instabilidade e incerteza, ainda mais em se
tratando de uma figura cujo projeto é exatamente o de destruir a democracia.
Trata-se, em suma, de um projeto de revolução conservadora que é capaz de
colocar Jesus Cristo atrás de uma arma e de militarizar nossas escolas”,
frisam.
Neste
contexto, chamam atenção para a reação insuficiente das instituições que
deveriam defender a democracia.
“Bolsonaro é o tipo de figura que não
economiza no hábito de apontar o dedo e linchar ‘culpados’, insuflando
seguidores a destruir os obstáculos que estariam mantendo o ‘mito’ acorrentado
e que o impediriam de governar para o bem da nação. Tudo em meio a uma malta
armada e fanática. Alguém duvida de quão trágica poderá ser essa história se
nada for feito para barrá-lo?”, questionam os autores.
“Não há
como imaginar que os fanáticos que o seguem se restringirão ao plano da
retórica, furtando-se de sacar as armas caso sejam convocados a salvar aquele
que cegamente idolatram. Editoriais de jornal, admoestações, broncas, sermões
edificantes, mesmo as resoluções de contenção dos demais poderes
constitucionais, nada disso terá o dom de os dissuadir. Aliás, quanto mais
essas manifestações se repetem sem trazer consequências, mais perdem
autoridade”, advertem.
Assinam
o artigo os seguintes professores: André Singer, titular do departamento de
ciência política da USP, Christian Dunker, titular do Instituto de Psicologia
da USP, Cicero Araújo, titular do departamento de ciência política da USP, Felipe
Loureiro, do Instituto de Relações Internacionais da USP, Laura Carvalho, do departamento
de economia da USP, Leda Paulani, titular do departamento de economia da USP, Ruy
Braga, titular do departamento de sociologia da USP, Vladimir Safatle, titular do
departamento de filosofia da USP.
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