26 abril 2020

Vitória sem encanto


Seleção de 94 não fascinou, mas era muito forte no individual e no coletivo

Time não agradou tanto porque jogou à moda inglesa da época, considerada retranca

Tostão, Folha de S. Paulo

 

Muitas pessoas, encantadas com a seleção de 1982, que perdeu, costumam desvalorizar a de 1994, que ganhou, com a intenção de enfatizar a teoria de que, muito mais importante que a vitória é o fascínio que exerce uma equipe. Melhor ainda é ganhar e encantar.
A seleção de 1994, dirigida por Parreira, não fascinou, mas era muito forte, no individual e no coletivo. Não agradou tanto porque jogou à moda inglesa da época, com duas rígidas linhas de quatro, recuadas, e dois atacantes. Nenhuma equipe do Brasil jogava dessa forma. Era considerado uma retranca.
Como os dois volantes atuavam muito atrás e os dois meias muito abertos, com funções defensivas, os atacantes Bebeto e Romário ficavam isolados. Mesmo assim, brilhavam.
A Globo transmite a final contra a Itália neste domingo (26), às 16h.
O time dependia muito dos contra-ataques e das estocadas. Por outro lado, até hoje, essa é a maneira defensiva de jogar mais eficiente, pois os quatro defensores são protegidos por quatro jogadores de meio-campo.
O Boca Juniors, dirigido por Carlos Bianchi na época, ganhou vários jogos decisivos no Brasil, pela Libertadores, atuando dessa forma, no contra-ataque.
O Corinthians, dirigido por Mano Menezes, Tite e Carille, ganhou vários títulos. O Atlético de Madrid, com Simeone, se destaca pelo sistema defensivo, também com duas linhas de quatro.
No Mundial de 2006, Parreira repetiu a formação tática, e não deu certo, porque escalou pelos lados dois dos melhores jogadores do mundo, Kaká e Ronaldinho Gaúcho, que também tinham funções defensivas. Os dois brilhavam intensamente em seus clubes por jogarem perto do gol.
O mesmo ocorreu no Mundial de 1994, com Raí, pela direita. Ele não tinha velocidade para marcar e atacar e acabou sendo substituído por Mazinho. Raí era brilhante da intermediária para o gol.
Na Copa de 1994, após ficar mais de 20 anos fora do futebol, recebi um convite da TV Bandeirantes para participar da cobertura do Mundial nos Estados Unidos. Aceitei, para minha surpresa.
Fiquei 40 dias em Dallas, onde estava o centro de imprensa. Convivi, diariamente, com o mestre Armando Nogueira. No hotel, encontrava, com frequência, meu ídolo literário, João Ubaldo.
Passava o dia no centro de imprensa, onde assistia a todas as partidas da Copa, pela televisão, dava entrevistas, fazia comentários e participava, todas as noites, de uma mesa redonda. Gérson e Rivellino trabalhavam também na emissora, mas ficavam em San Francisco, onde treinava a seleção brasileira.
Diverti-me bastante no Mundial.
Um dia, comia um lanche, no centro de imprensa, quando se aproximou um senhor mais velho. Pediu licença para sentar-se ao meu lado e se apresentou: “Sou Di Stefano”.
Quase caí da cadeira. Era meu ídolo e o de meu pai, um dos maiores da história. Meu pai falava que Pelé era o rei do futebol, mas que Di Stefano era o único que brilhava de uma área à outra.
Vi apenas um jogo do Brasil no estádio, em Dallas, contra a Holanda, na vitória por 3 a 2, pelas quartas de final. Romário fez um magistral gol.
Encontrei, após 24 anos, desde a Copa de 1970, Gérson e Rivellino, dois grandes companheiros.
A seleção de 1994 tinha um dos melhores centroavantes da história (Romário) e mais um elenco de excelentes jogadores. Além disso, foi extremamente competitiva, coletiva, ao executar bem o que foi planejado.
Em qualquer atividade, não basta ter ótimo conhecimento, boas ideias e ser criativo. É preciso executar bem, saber fazer.

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