Bolsonaro vem negociando com uma aliada importante de seu
governo: a Morte
Em
sua homenagem, o presidente estuda lançar a campanha Morre que Passa
Manuela Cantuária*,
Folha de S.Paulo
Circula
no Planalto a informação de que Nelson Teich não era a primeira opção de Jair Bolsonaro para
substituir Mandetta no Ministério da Saúde. O presidente vinha negociando com
uma importante aliada de seu governo: a Morte. A candidata tinha o apoio da ala
militar e de uma pequena parte da população, que vem fazendo carreatas em sua
defesa.
Apesar do clima amistoso e cordial entre ambos, a Morte não pôde
aceitar o convite para fazer parte do governo. A pandemia tem ocupado a maior parte
de seu tempo.
Onde
os outros enxergam uma crise, a Morte vê uma oportunidade, assim como Jorge
Paulo Lemann, Jeff Bezos e Gabriela Pugliesi. Mas ninguém no planeta está lucrando como
a ceifadora. Nem os fabricantes de álcool em gel tiveram tanta sorte nos
negócios.
Talvez não durasse muito no cargo. A Morte roubaria os holofotes
ainda mais do que Mandetta. Já estampa jornais no mundo inteiro, circula entre
celebridades e em comunidades carentes. Seu nome está na boca do povo. É
respeitada e temida como Bolsonaro gostaria de ser. Nem o torturador Brilhante
Ustra é digno de tamanha admiração pelo presidente.
Auxiliares
palacianos disseram que a última reunião dos dois foi realizada por
videoconferência, na semana passada. O encontro entre Bolsonaro e a Morte foi
marcado por uma intensa troca de elogios. Desde 2018, os dois têm formado uma
dupla e tanto.
A
Morte agradeceu a Bolsonaro mais uma vez pela reforma da Previdência, pela
flexibilização do uso de cadeirinhas de bebê nos carros, pela liberação de
agrotóxicos proibidos, pela suspensão do uso de radares nas estradas, por
revogar o sistema de fiscalização de armas e facilitar sua posse, por todas as
medidas contra a população indígena, pela agenda brutal de segurança pública e
outros mimos que tanto beneficiam seu trabalho.
Bolsonaro
também pediu conselhos para a gestão da crise atual. A Morte sempre lhe pareceu
a melhor saída para essa “cuestão” do coronavírus. Um remédio até mais
eficiente do que a cloroquina. Em sua homenagem, o presidente estuda lançar a
campanha Morre que Passa, uma colaboração inédita entre os ministérios da Saúde
e da Economia.
A
rasgação de seda não parou por aí. A Morte exaltou a demissão de Mandetta e
acredita que o novo ministro fará um ótimo trabalho.
Reforçou
a importância de continuar combatendo o isolamento social, furando a
quarentena, participando de manifestações e defendendo a reabertura do
comércio.
A
parceria entre o “Mito” e a Morte promete ir ainda mais longe.
*Roteirista e
escritora, faz parte da equipe do canal Porta dos Fundos
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