26 abril 2020

Um caso patológico

Apelo aos psiquiatras
Ricardo Leitão, Jornalista

Ao longo de 27 obscuros anos na Câmara dos Deputados, Jair Bolsonaro se destacou apenas como um defensor da então raquítica extrema direita. Seu único momento de glória se deu quando, ao apoiar o impeachment da Presidente Dilma Rousseff, dedicou seu voto ao Coronel Carlos Alberto Brilhante Ulstra, emérito torturador na ditadura militar. Militante da esquerda que pegou em armas contra o Golpe de 1964, Dilma Rousseff foi presa e torturada.
Passadas décadas, imaginaram mulheres e homens de bons sentimentos que Bolsonaro deixara os tempos de horror para trás. Perigoso engano. Empoleirado na caçamba de uma caminhonete, no portão do Quartel General do Exército, em Brasília, há poucos dias o capitão retornou aos saudosos tempos. Alardeou que não iria “negociar nada”, açulando a horda que ululava, pedindo o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal e a volta do AI-5. Vestiam camisas pretas, a cor do fascismo. Saudada por gestos de Bolsonaro a horda atentava ostensivamente contra a Constituição e o Estado Democrático de Direito, diante da omissão e do testemunho do Presidente da República.
Durante a radicalizada campanha presidencial passada não foram poucos os alertas sobre o comportamento violento de Jair Bolsonaro. Vitorioso, ele fez do autoritarismo método de governo. Exemplo em vigência é a tentativa de exigir o fim do isolamento social durante a pandemia da covid 19, desmoralizando as orientações médicas e indiferente ao risco de milhares de pessoas adoecerem e morrerem.
Como de hábito, sua permanente postura arbitrária mais uma vez motivou protestos veementes das instituições democráticas, que se levantaram contra os fantasmas que ele tão bem representa. Contudo não basta, diante da ameaça crescente que Bolsonaro se tornou para a estabilidade do País. A propósito, apenas um ponto para reflexão: errático no enfrentamento da pandemia, teria ele condições de liderar o Brasil durante a profunda e inevitável recessão econômica que se aproxima?
Tal reflexão é fundamental. Ultrapassa o campo político e se insere no campo da medicina. Necessário, portanto esclarecer, e com urgência, se o Presidente da República é mentalmente capaz de presidir. Ao que parece, ele não é louco. Segundo os manuais, seu comportamento se encaixaria em outra categoria, a dos psicopatas. Entrevistado pela jornalista Ruth de Aquino, disse o psicanalista e psiquiatra Joel Birman: “A psicopatia não é uma loucura no sentido clássico, mas uma insanidade moral, um desvio de caráter de quem não tem como se retificar, porque não sente culpa nem remorso”. Estamos sendo governados por um psicopata?
Temos o incontestável e intransferível direito de saber. O mandato do Vosso Presidente ainda se estenderá por dois anos e meio. Até 31 de dezembro de 2022 muitos fatos e tantos surtos podem acontecer. Cercado por um núcleo duro de radicais perigosos, vocalizando delírios persecutórios, insultando a Imprensa e tutelado por grupos militares, Bolsonaro arrisca implodir. O que daí vai sobrar é uma incógnita.
Os brasileiros que votaram a favor e contra ele precisam saber antecipadamente a respeito do poço profundo em que pode mergulhar a mente conturbada do capitão. Um direito democrático de todos, a ser exercido em nome de um compromisso coletivo com o futuro do País.
É dever colocar essa questão na rua, transformá-la em estudo de caso, debatê-la nas rodas acadêmicas. Haverá confrontação de argumentos, o que é muito bom, melhor ainda para o Brasil.
Liderar este debate impõem-se como tarefa dos psiquiatras. É o apelo que fica.
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