Vírus pode atacar também o sistema
nervoso central
O novo coronavírus pode atacar também
o sistema nervoso central, causando problemas neurológicos graves a médio e
longo prazo, como Alzheimer. O alerta foi feito em um artigo publicado ontem na
Trends in Neuroscience (revista do grupo Cell) e assinado por cientistas
brasileiros, incluindo Jorge Moll, da UFRJ e presidente do conselho do
Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor), um dos autores do artigo.
Em um levantamento feito com base em
diversos estudos, os cientistas mostram que as doenças cerebrovasculares estão
entre as comorbidades de pacientes que testaram positivo para a covid-19 e
desenvolveram complicações respiratórias graves. Um dos estudos, cita o artigo,
relata casos de isquemia em 20% de 113 pacientes mortos. Outro estudo avaliou
214 pacientes na China e concluiu que 36% tiveram alguma manifestação
neurológica. “Alterações, incluindo encefalite, foram descritas”, confirma a
diretora-presidente do Idor, Fernanda Tovar-Moll, que também assina o artigo. O
estudo lembra ainda que a conexão entre infecções virais e patologias do
sistema nervoso central não é exatamente uma novidade e as observações feitas
dos casos de covid-19 são semelhantes às notadas em casos de infecção por
outros coronavírus, como SARS e MERS. Pesquisador da Queens University, no
Canadá, o brasileiro Douglas Munoz também assina o artigo. Ele lembra que, dada
a dimensão global da pandemia atual, é necessário considerar desde já os
possíveis impactos a longo prazo da covid-19 no cérebro. “Ressaltamos a
importância de acompanhar os pacientes nos próximos anos, pois a infecção por
SARS-COV-2 pode favorecer ou aumentar a suscetibilidade a desenvolver doenças
como Alzheimer e outros distúrbios neurodegenerativos ou neurológicos”,
concluiu Fernanda de Felice, do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ, também
autora do artigo.
Explicação. A invasão pelos
coronavírus já foi documentada em estudos com modelos animais e parece ocorrer
por meio de nervos como o trigêmeo e o nervo olfatório, como relata o professor
Octávio Marques Pontes Neto, do Departamento de Neurociências e Ciências do
Comportamento da MedicinaUSP em Ribeirão Preto. “Estudos mostram que esse tipo
de vírus pode invadir e migrar pelo neurônio e pode induzir a confusão no
sistema imunológico.” “Já há estudos que mostram que nos casos mais graves há
até 5% de AVCs e outros tipos de enfartes”, argumenta Pontes Neto. “A anosmia,
que é a perda do cheiro e do gosto, é um dos sintomas mais comuns e decorre da
infecção do nervo olfatório”, ressaltou. De acordo com o pesquisador, já há
documentação científica também da ocorrência da síndrome do anticorpo
antifosfolípide (SAAF), um distúrbio autoimune que agride as paredes vasculares
venosas e arteriais. (Fonte: O Estado de São Paulo)
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