"você
sabe meu nome?"
Melka Pinto
você sabe
a importância de saber o nome de alguém? de reconhecê-las e vocalizar seus
respectivos nomes? claro que obviamente não estou me referindo às pessoas
próximas de nós, colegas de trabalho, família e amigas, tô falando das pessoas
que não são dessas relações. tô falando da moça da padaria, do garçom do
restaurante que se vai com frequência, ou do ascensorista do elevador do
trabalho, do cobrador do ônibus que pegamos religiosamente no mesmo horário,
saber esses nomes importam muito, criam vínculos.
tudo bem,
nem todo mundo tem essa facilidade em memorizar rostos e nomes, mas acredito
também que a iniciativa do interesse já faz muita diferença, como a pergunta
"qual seu nome?" eu particularmente tenho uma memória que às vezes
tenho até vergonha de tanto que me recordo das coisas, eu reconheço pessoas de
20 anos atrás no meio da rua e cumprimento as pessoas que, com lógica, não
sabem quem tá falando. então lembrar o nome pra mim é uma coisa bem básica.
sempre
cumprimentei pelo nome a maioria das pessoas do meu cotidiano, e quando cheguei
à universidade que entrei no movimento estudantil, eu percebi que falar com as
pessoas pelo nome fazia muita diferença na construção das relações e agora na
minha vida profissional na atenção básica dos serviços de saúde, trabalhando
com famílias, fico feliz em poder ter espaço de armazenamento suficiente na
memória para reconhecer a todas as pessoas que passam por mim.
no
começo, os nomes nos exames e encaminhamentos eram só nomes, agora são nomes
com rostos e histórias de vida conhecidas, um dia desses, um senhor chegou à
unidade e então respondi "oi seu josé" (nome fictício), ele olhou pra
mim e fez "você sabe meu nome?" bom, passou. dias depois, andando na
rua pelas redondezas, encontro "seu josé", ele olha pra mim e fala
"vai almoçar o que? quando precisar, pode ir à minha casa a partir das
11h", o nome disso é vínculo.
inserida
em outro vínculo profissional com tudo diferente, na assistência hospitalar,
observo que toda equipe de enfermagem e demais profissionais se referem aos
pacientes por letra e número do leito, são A2, B3, F4, eu só sei chamar as
pessoas pelo nome, não julgo, faz parte da rotina para o processo de trabalho,
mas pra mim é muito estranho, sou tão acostumada a atender gente que sei de coisas
que às vezes nem ela sabe, porque foi outra pessoa que me contou que de fato é
muito estranho.
e percebi
que era estranho mesmo, no momento em que alguém se referiu ao leito tal e eu
comentei, "ah, mas felipe não tá muito bem né" (nome fictício), a
pessoa então questionou "tu conhece ele?" e entendi que ela perguntou
isso somente porque o chamei pelo nome. não tenho dúvidas, saber o nome das
pessoas é muito importante, as humaniza, as coloca em um lugar de gente.
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