Xadrez
das pesquisas da Prevent sobre o uso da cloroquina
Luis Nassif,
Jornal GGN
Peça 1 – sobre os testes de consistência das
notícias
O GGN foi o primeiro veículo a publicar o áudio em que o dono da
Prevent Senior alertava para os efeitos devastadores da Covid-19 sobre seus
pacientes, incluindo a própria mãe.
Na época, houve críticas devido ao fato da Internet estar
coalhada de fake News. E se fosse apenas mais um fake News? Decidimos dar o
áudio fundado nas seguintes evidências:
1. No
áudio, ele se refere ao nome do interlocutor, Alan. A fonte que me repassou o
áudio mencionou um conhecido empresário de nome Alan, que faz parte de seu
círculo de relações.
2. O
nível de detalhes da gravação exigiria uma sofisticação incomum em praticantes
de fake News.
A
nota saiu. A reação da Prevent foram algumas explicações titubeantes sobre o
fato, mas nenhum desmentido sobre o conteúdo. O áudio serviu para acender a luz
vermelha sobre os perigos da coronavirus.
1. No
áudio, ele se refere ao nome do interlocutor, Alan. A fonte que me repassou o
áudio mencionou um conhecido empresário de nome Alan, que faz parte de seu
círculo de relações.
2. O
nível de detalhes da gravação exigiria uma sofisticação incomum em praticantes
de fake News.
A
nota saiu. A reação da Prevent foram algumas explicações titubeantes sobre o
fato, mas nenhum desmentido sobre o conteúdo. O áudio serviu para acender a luz
vermelha sobre os perigos da coronavirus.
Nos
dias seguintes, houve uma enxurrada de ofensivas contra a Prevent, devido ao
número de mortes registrados: Prefeitura, Estado e uma insólita declaração do
Ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, em rede nacional, crucificando a
empresa. Todas com ampla cobertura da mídia.
Quando
baixou a poeira, tinham-se os seguintes fatos concretos:
1. Fiscalização
da Secretaria da Saúde que confirmou que a empresa seguia rigorosamente os
protocolos médicos.
2. Investigação
do Ministério Público Estadual que constatou que a empresa agiu corretamente.
3. Depoimentos
de clientes atestando sua seriedade, inclusive uma pessoa da minha família.
4. A
confirmação da existência da pandemia em São Paulo e o fato de todos os
clientes da Prevent serem de grupos de risco – pessoas com mais de 60 anos,
alguns com comorbidade.
De
qualquer modo, na guerra do dia-a-dia da cobertura, a Prevent ficou de lado.
Havia apenas menções vagas de que estaria pesquisando a doença.
Peça 2 – as pesquisas atuais da Prevent
Senior
Ontem, procurei a assessoria da empresa para uma entrevista com
o presidente Fernando Parrillo sobre o tema do custo dos planos de saúde. Qual
seria o modelo de negócios montado por ele para oferecer um produto mais barato
aos seus clientes, em um cenário em que as mensalidades para idosos, em outros
planos, ascende a cifras exorbitantes?
Na
entrevista, para minha surpresa, Parrillo mencionou as pesquisas do grupo com
pacientes afetados pelo coronavirus.
Uma delas foi com 360 pacientes com coronavirus – um universo
apreciável -, ao contrário do que parecia ser um universo restrito da médica
Nise Yamaguchi. Segundo ele, a injeção de cloroquina nos dois primeiros dias
reduziu consideravelmente sua exposição à doença, permitindo que, com os demais
remédios ministrados, saíssem curados do tratamento.
Uma
segunda – cujos resultados estão sendo mantidos em sigilo até sua publicação em
revista científica – com mais de mil pacientes que já tomavam cloroquina para
outras morbidades.
Os resultados das pesquisas já foram enviados para academias e
publicações científicas e aguardam análise para publicação.
Por que o relato deve ser levado a sério?
1. O
grupo tem o histórico de doença de todos os clientes e os dados clínicos de
atendimento às vítimas de coronavirus. Aliás, o segredo da redução de custos
está no acompanhamento pari-passu de todos os clientes para implementar
políticas de prevenção.
2. Além
disso, graças ao fato de sua clientela ser de grupos de risco, teve acesso a um
universo de pesquisa que poucas instituições teriam acesso, com todos os dados
de saúde e diagnóstico previamente organizados e catalogados.
3. Finalmente,
porque não dá para blefar, já que as informações serão abertas para as
instituições científicas analisarem as pesquisas.
Finalmente,
tem explicações convincentes para o fato de outras pesquisas terem mostrado
riscos para os pacientes – como a de Manaus (que divulgamos ontem), com 11
pacientes, suspensa após um deles ter falecido por problemas cardíacos.
Devido
ao caráter experimental do tratamento, Ministério da Saúde e órgãos de medicina
recomendam utiliza-lo apenas em pacientes já intubados, em estado grave – e,
portanto, com os pulmões já afetados e com alta probabilidade de morbidade. E
há também a dosagem ministrada, que não pode ser exagerada.
Já
os procedimentos da Prevent Senior foram com pacientes até o segundo dia de
manifestação da doença. Segundo Parrillo, este é o momento adequado porque,
depois dos pulmões tomados pela doença, não haveria mais como a cloroquina
reverter o quadro.
Quando
chega no hospital para se tratar, informou Parrillo, os pacientes já estão no
quinto ou sexto dia do aparecimento dos sintomas. Para aplicar o remédio até o
segundo dia, foi montado um serviço de tele atendimento para identificar os
sintomas e ministrar a droga antes mesmo que o paciente chegue no hospital.
De qualquer modo, há que se aguardar o veredito das instituições
centíficas para quem as pesquisas foram submetidas.
Peça 3 – as consequências
Se confirmadas, as pesquisas trarão consequências políticas,
científicas e médicas relevantes.
Do
lado político, o inconsequente Jair Bolsonaro tem se valido da retórica da
cloroquina para combater o isolamento social. Sem isolamento social, haverá um
desastre, com ou sem cloroquina.
A politização imposta ao tema – por ele e por seu guru Donald
Trump – fará com que a vitória da cloroquina seja considerada vitória da
anticiência sobre o pensamento científico. Haverá uma exploração política
intensa, com Bolsonaro tentando ocultar sua ciclópica incompetência na aposta
no medicamento. Esse é o dilema maior: sendo boa para os pacientes, a mística
da cloroquina será um horror para a política.
E, se as pesquisas forem confirmadas, a cloroquina apenas
melhorará as condições iniciais dos pacientes, sem prescindir da retaguarda de
leitos médicos e de UTI.
O
estardalhaço que se seguirá provocará uma nova corrida do público às farmácias,
mesmo daquelas pessoas sem sintomas de coronavirus. Será mais um efeito
negativo da politização imposta por Bolsonaro.
Do
lado científico, haverá a necessidade de se acelerar as análises das pesquisas
e grandeza para despolitizar o tema, sabendo que poderá significar o
fortalecimento dos dois governantes mais irresponsáveis e inconsequentes da
história de seus respectivos países.
Do lado médico, se confirmados os efeitos positivos da cloroquina,
haverá riscos no uso excessivo da dosagem ministrada. Daí o fato de não
prescindir de acompanhamento médico.
Peça 4 – as políticas a serem aplicadas
Se confirmadas as pesquisas, não será tarefa fácil administrar a
cloroquina.
O primeiro passo será a montagem de sistemas de identificação em
massa dos sintomas do coronavirus na população. Haverá a necessidade de se
utilizar recursos de tele atendimento.
Depois, a centralização do medicamento nas mãos do SUS,
impedindo movimentos especulativos e privilégios para os detentores de renda.
Haverá
a necessidade de um sistema tão amplo quanto o da vacinação. E um enorme
esforço geral para impedir que a adesão à cloroquina seja confundida com o fim
do isolamento social.
Além disso, a cloroquina é apenas a fase inicial do tratamento,
que não prescindirá de estrutura hospitalar. Sorte do país é que a
implementação ficará a cargo do SUS, e não do Paulo Guedes.
Peça 5 – não se briga com os fatos
Todos esses pontos foram pesados no GGN, antes da publicação da
entrevista de Fernando Parrillo. Mas não cabe aos jornalismo brigar com os
fatos. Mas será importante que todos os agentes envolvidos – políticos, médicos
e científicos – se preparem para mudanças na discussão pública do tema, caso as
pesquisas sejam confirmadas.
Mesmo
assim, manteremos o “se confirmados” até a confirmação final pela ciência.
Se inscreva, fique sabendo https://bit.ly/2ySRLkm
Leia mais https://bit.ly/2Jl5xwF
Nenhum comentário:
Postar um comentário