19 novembro 2020

Habilidade para avançar

Acordo liderado pela China desafia EUA

Transcrevo matéria de O Estado de São Paulo pela relevância da notícia, inserida no quadro de alterações da geopolítica mundial

 

Após oito anos de negociações, no domingo, a China e 14 outras nações, do Japão à Nova Zelândia e Mianmar, assinaram formalmente um dos maiores acordos regionais de livre-comércio do mundo, um pacto moldado por Pequim, pelo menos em parte, como um contrapeso à influência dos Estados Unidos na região. A Parceria Regional Econômica Abrangente, ou RCEP na sigla em inglês, é limitada em escopo. Mesmo assim, carrega um peso simbólico considerável. O pacto cobre mais seres humanos – 2,2 bilhões de pessoas – do que qualquer acordo regional de livre-comércio e pode ajudar a consolidar ainda mais a imagem da China como potência econômica dominante em sua vizinhança. O acordo também ocorre após a retirada dos EUA de acordos comerciais abrangentes, o que remodelou as relações globais. Quase quatro anos atrás, Donald Trump tirou o país da Parceria Transpacífica (TPP), um acordo mais amplo do que a RCEP que era visto como uma resposta liderada por Washington à crescente influência da China na região da Ásia-pacífico.


Para alguns especialistas em comércio, esse novo acordo mostra que o resto do mundo não vai esperar pelos EUA. A União Europeia também conduziu as negociações comerciais em um ritmo agressivo. À medida que outros países assinam novos acordos, os exportadores americanos podem perder terreno gradualmente. “Acho que será preciso tomar algumas ações reativas como a China está fazendo”, disse Jennifer Hillman, pesquisadora sênior de comércio e economia, política internacional do Conselho de Relações Exteriores. Por causa da pandemia, a assinatura do acordo foi realizada em cada um dos 15 países-membros, todas conectadas por vídeo. 


Transmitidas simultaneamente em uma tela dividida, as diferentes cerimônias ofereciam um vislumbre da cultura política de cada país. O Vietnã, país anfitrião das negociações deste ano, a Coreia do Sul e o Camboja tinham uma ou duas pequenas bandeiras de mesa ao lado de seus ministros. No outro extremo, a cerimônia da China foi conduzida em frente a uma parede com cinco grandes bandeiras chinesas. O primeiro-ministro, Li Keqiang, classificou o pacto como “uma vitória do multilateralismo e do livre-comércio”. 


A RCEP abrange os dez países da Associação das Nações do Sudeste Asiático além de Austrália, China, Japão, Nova Zelândia e Coreia do Sul. O pacto elimina, sobretudo, tarifas de bens que já se enquadram no tratamento de isenção de impostos dos acordos de livre-comércio existentes. E também permite que os países mantenham tarifas de importação em setores que considerem importantes ou sensíveis. As chamadas regras de origem do pacto estabelecerão padrões comuns para a quantidade de determinado produto que deve ser produzida na região para que o produto final se habilite para o tratamento com isenção de impostos. O mais evidente é que o pacto não inclui a Índia, outro gigante regional. O governo de Nova Délhi se retirou das negociações em julho. 


He Weiwen, ex-funcionário do Ministério do Comércio em Pequim e proeminente especialista em política comercial da China, disse que, no entanto, o acordo representa um grande passo à frente. As barreiras comerciais mais baixas podem encorajar as empresas globais a evitar as tarifas de Trump sobre os produtos chineses, mantendo a produção na Ásia em vez de transferila para a América do Norte, disse Mary Lovely, pesquisadora sênior do Instituto Peterson de Economia Internacional em Washington. “A RCEP dá às empresas estrangeiras maior flexibilidade para navegar entre os dois gigantes.”

Veja: O peso da China na cena geopolítica mundial https://bit.ly/3nATqzc

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