27 novembro 2020

Crônica do início da manhã

As batatas de Alice

Luciano Siqueira

 

Em ligação de vídeo pelo smartphone, minha neta de 7 anos avisa:

- Estou arrumando a mesa para o café da manhã.

- Ótimo!

- Veja, esse lugar aqui é de Cláudio e Reginaldo.

- Quem!?

- Minhas duas batatas.

- Batatas, como assim?

- Minha mãe e meu pai não me dão peixinhos num aquário, estou criando essas duas batatas...

- Criando como?

Vai até a sala e mostra na tela do celular duas batatas inglesas acomodadas no sofá:

- Veja, vovô, elas duas estavam vendo filminho comigo, agora vão para a mesa.

- Por que Claudio e Reginaldo?

- Porque são nomes bonitos.

E segue falando que as duas batatas com nome de gente têm até lugar para dormirem, no quarto dela.

E eu viajo na imaginação dessa companheirinha que todas as manhãs, desde que a pandemia nos obrigou ao distanciamento, faz ligações em vídeo para conversar com a avó e o avô.

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Dias depois, pergunto:

- Como estão Cláudio e Reginaldo?

- Cláudio morreu.

- Morreu de quê?

- Apareceu uma coisa estranha (talvez um fugo, suponho) e precisei botar no lixo. Mas Reginaldo continua aqui.

- Tá bem, Pixilinga (assim a chamo carinhosamente), cuide bem dele.

- Estou cuidando, é meu amigo.

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A imaginação fantástica e lírica das crianças nos ajudam a viver.

Veja uma dica de leitura: Cida Pedrosa https://bit.ly/3ns6HtO

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