22 novembro 2020

Futebol em evolução?

Aumento de gols e goleadas entre grandes times sinaliza mudanças no futebol

VAR, ausência de torcida e pressão na saída de bola podem explicar transformação

Tostão, Folha de S. Paulo

O São Paulo tem melhorado muito, no coletivo e no individual. Os jovens do time estão cada dia melhores. Porém, na vitória por 3 a 0 sobre o Flamengo, a equipe, principalmente no primeiro tempo, como às vezes ocorreu em outros jogos, recuou Daniel Alves para fazer a saída de bola ao lado do goleiro, e a troca de passes não teve progressão.

Já o Flamengo virou um time comum, por causa de várias ausências, por variados motivos. O elenco tem mostrado que não é tão excelente quanto se achava. Antes, com Jorge Jesus, mudava pouco.

O problema não era somente Torrent. Ele saiu, e criou-se a ilusão de que Rogério Ceni escalaria a equipe no esquema igual ao de Jorge Jesus, de que o novo técnico já seria o melhor do Brasil e de que, com ele, o time voltaria rapidamente ao que era. É o açodamento e a espetacularização de tudo. Todo mundo é genial.

São Paulo e Grêmio farão uma bela semifinal da Copa do Brasil. São dois times que gostam de trocar passes até o gol. A bola é muito bem tratada.

Na outra semifinal, o Palmeiras tem mais chances, mas o América não é mais tão surpresa. Lisca não é apenas doido. É também normal, racional, com bons conhecimentos técnicos. Só não pode participar de aglomerações de comemoração das vitórias. A epidemia continua.

No Palmeiras, o time reserva também vai bem, com tantos infectados pela Covid-19. Dois destaques têm sido o meia ofensivo Raphael Veiga e o meio-campista Zé Rafael. Como Zé Rafael joga longe do gol, é pouco badalado.

Outro destaque do Palmeiras é o técnico português Abel Ferreira. Além dos conhecimentos técnicos e táticos e, nas entrevistas, de explicar muito bem o que acontece no jogo, tem uma ampla visão do futebol, emocional e humana. Já os técnicos brasileiros não costumam explicar o que acontece em campo. Não querem ou não sabem.

Passo para as Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 2022. Se o árbitro brasileiro Raphael Claus não tivesse prejudicado tanto a Argentina, no empate contra o Paraguai, os argentinos estariam junto com o Brasil na liderança.

Após o Mundial de 2018, sob o comando do jovem técnico Lionel Scaloni, interino no início da trajetória, a Argentina formou um bom conjunto. Falta mais qualidade individual em algumas posições.

Os argentinos, os espanhóis e todo o mundo estão preocupados, desconfiados, de que Messi está em queda, jogando com menos movimentação, velocidade e eficiência. Ainda é cedo para dizer se isso é definitivo. Obviamente, ele não é eterno. Antes da Copa de 1970, falavam o mesmo de Pelé. Penso que hoje o grande sonho de Messi é ser campeão do mundo pela Argentina.

Noto que, no Brasil e em todo o mundo, tem havido muito mais gols e goleadas entre grandes times do mesmo nível. Recentemente, Liverpool, Manchester City, Barcelona, a Alemanha e vários grandes do Brasil, como Atlético-MG e Flamengo, sofreram muitos gols.

Com o VAR, ocorrem mais gols? Seria por causa da ausência da torcida? As equipes, sem serem pressionadas pelos torcedores, ousariam, arriscariam mais? Ou há uma mudança progressiva no futebol, com os times pressionando mais, tentando recuperar a bola com muitos jogadores, mais perto do outro gol, além de trocarem mais passes desde o goleiro, o que facilitaria para os atacantes?

Assim como na vida e no envelhecimento, as coisas mudam aos poucos, lentamente, e não percebemos. De repente, levamos um susto. O mundo e o futebol mudaram.

Veja uma dica de leitura: Raimundo Carrero https://bit.ly/3pCHkXY

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