A prancheta é o superego dos atletas
Sistema
tático serve só de referência para controlar ambições individuais
Tostão, Folha de S. Paulo
Milton
Leite, baita narrador e jornalista esportivo, com quem trabalhei na ESPN
Brasil, disse com razão no Redação SporTV que, atualmente, não se pode analisar
futebol como antes da epidemia, não somente pela ausência de público, mas
também por inúmeros outros detalhes, físicos, técnicos e psicológicos.
Discordo
que o Fortaleza e o Flamengo, ambos dirigidos por Rogério Ceni,
utilizem a mesma tática do Flamengo de Jorge Jesus. Antes, o Flamengo,
quando perdia a bola, corria para frente e pressionava, para recuperá-la perto
do outro gol. Agora, o time, muitas vezes, corre para trás, para fechar os
espaços, com dois volantes e um meia de cada lado.
A
principal razão da fragilidade da defesa do Flamengo é o fato de o time
recuperar pouco a bola no campo adversário. Com isso, a outra equipe troca
passes e usa muito os lançamentos nas costas dos defensores.
Diferentemente do Flamengo com Torrent, que jogava com dois pontas
abertos e um centroavante, a equipe, com Rogério Ceni, como fazia com Jorge
Jesus, possui uma dupla de atacantes, Gabigol e Bruno Henrique.
Embora o gol contra o Racing tenha saído de uma belíssima jogada
individual de Bruno Henrique, pela esquerda, ele e Gabigol atuam melhor mais
perto do gol, entrando em diagonal da meia para o centro.
O Fortaleza, dirigido por Rogério Ceni, tinha dois meias abertos, mas
que avançavam, encostados à lateral. O Flamengo, com Arrascaeta de um lado e
Everton Ribeiro de outro, tem dois meias construtores, armadores, que se
movimentam por todo o campo.
Todos
os sistemas táticos são bons e ruins. Vai depender da execução, da qualidade
dos jogadores e da eficiência das jogadas imprevisíveis. Quando a bola rola, é
importante que, a cada instante, alguns jogadores ocupem posições diferentes e
exerçam mais de uma função. Alguns analistas acadêmicos acham que, durante o
jogo, até a bola passada para trás é planejada.
O
sistema tático serve apenas de referência para controlar, reprimir, as
demasiadas ambições individuais. A prancheta é o superego dos atletas.
POSIÇÃO
Se Renato Gaúcho escalar
Jean Pyerre como meia ofensivo, como muitas vezes faz, o jogador será muito
melhor que os outros. Se Renato o escalar como volante, como também às vezes faz,
ele também será muito melhor que os outros. Melhor ainda se Renato o escalar
nas duas posições ao mesmo tempo. Ele será melhor que todos.
Se
eu fosse Tite, já o convocaria e o experimentaria no time titular, no lugar do
volante Douglas Luiz ou do meia Coutinho. Ele é melhor que os dois e, ao mesmo
tempo, pode fazer as duas funções. Se não der certo, tudo bem. Jean Pyerre tem
grandes chances de se tornar o jogador que eu tanto sonho, um craque no
meio-campo.
ILEGALMENTE BEM ANULADO
O
São Paulo fez um gol contra o Ceará em nítido impedimento, marcado
imediatamente pelo auxiliar. O árbitro ignorou o bandeirinha, deu o gol, e o
jogo recomeçou. O VAR acordou, pressionou o árbitro, que voltou atrás, o que
não poderia ter feito, porque a partida já havia sido reiniciada. Foi um gol
ilegalmente bem anulado.
O
São Paulo queria anular o jogo, mas, por causa de muitas críticas, desistiu.
Houve muitas discussões, entre analistas e juristas, se o jogo deveria ou não
ser anulado. É a eterna dualidade humana, dividida entre a regra e a ética.
Lembrei-me de Kafunga, ex-jogador e comentarista dos anos 1960, que dizia que,
no futebol e no Brasil, o errado é que está certo.
Veja uma dica de leitura: Raimundo
Carrero https://bit.ly/3pCHkXY
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