Bolsonaro mente e usa túmulo como palanque para buscar vitória particular
Presidente sobe
mais um degrau na exploração macabra do governo em nome de interesses políticos
Bruno Boghossian, Folha de S. Paulo
Jair
Bolsonaro não teve vergonha de admitir que está mais preocupado com ganhos
pessoais do que com a vida dos cidadãos. Ao festejar a interrupção
dos testes da Coronavac, o presidente subiu um degrau na exploração
macabra do governo em nome de interesses políticos.
Bolsonaro
lançou mão de algumas marcas registradas: usou um túmulo como palanque,
reforçou suspeitas de aparelhamento de um órgão público e surfou na
desinformação para buscar uma vitória particular.
Logo pela
manhã, o presidente celebrou a decisão da Anvisa de suspender os experimentos
da vacina do laboratório chinês Sinovac após o registro de um “evento adverso”
com um voluntário. Ele ironizou o desafeto João Doria, patrono político do
imunizante, e sentenciou: “Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”.
Àquela altura,
coordenadores do Instituto Butantan já diziam que o tal “evento adverso” não
tinha relação com a vacina, mas o presidente não se importou. Mais tarde,
soube-se que o voluntário havia morrido
por suicídio ou overdose.
O presidente da Anvisa não quis comentar a festa do chefe.
Antonio Barra Torres disse que rejeitava insinuações de que o órgão agia para
favorecer Bolsonaro. Ele declarou ainda que só tinha “informações incompletas” a respeito
da morte, que não indicavam a suspeita de suicídio.
Isso não explica por que o presidente mentiu sobre o caso. Ao comentar a interrupção dos testes, Bolsonaro afirmou sem provas que o imunizante provocava danos graves: “Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Doria queria obrigar todos os paulistanos a tomá-la”.
A decisão de
interromper os testes da Coronavac segue padrões éticos desse campo, mas a
decisão de explorar a suspensão é política e joga dúvidas sobre o trabalho da
Anvisa.
O presidente
da agência ainda tentou fingir que Bolsonaro não
havia manchado o trabalho do órgão. “Fomos acometidos agora por
alguma loucura que fez jogar por terra tudo o que já fizemos até agora?”,
perguntou Barra Torres. Não, não foi agora.
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