26 novembro 2025

Lama no ventilador

Delação de ex-presidente do BRB e celular de Vorcaro disseminam pânico em Brasília
Paulo Henrique Costa abriu a caixa de ferramentas do BRB para fiscalização do BC e divide advogado com Ibaneis Rocha, mas analisa delação
ICL Notícias   

Cleber Lopes de Oliveira, advogado criminalista e ex-desembargador do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Distrito Federal, é momentaneamente o esteio da micropolítica de Brasília. Ele é ao mesmo tempo o encarregado da defesa técnica pessoal do governador Ibaneis Rocha, de quem é amigo e com quem galgou cargos na seccional brasiliense da Ordem dos Advogados do Brasil. É também o criminalista encarregado de organizar a primeira linha de defesa do ex-presidente do BRB (Banco Regional de Brasília), Paulo Henrique Costa.

“Enquanto as defesas forem comuns, estamos tranquilos. Significa que não há delação sendo feita. Todos os posicionamentos do banco foram defensáveis do ponto de vista do mercado”, diz um secretário do GDF com acesso direto a Ibaneis, amizade institucional com Lopes e desconfiança recíproca da estabilidade emocional e da correção pessoal de Paulo Henrique Costa. “Se ele resolver inventar uma delação, não será por meio do Cleber. A confiança do governador no advogado e amigo de anos é total. Agora, se o Paulo Henrique anunciar que mudou a defesa será um Deus-nos-acuda em Brasília”.

Vice-governadora exigiu nome “seu” no BRB

Na última sexta-feira, depois de se reunir com integrantes do Ministério Público Federal e com a Polícia Federal, Paulo Henrique Costa foi recebido pelo governador do DF no Palácio do Buriti. Não foi uma conversa leve. O ex-presidente do BRB disse ao ex-chefe que eram falsas as notícias de que fosse um delator até aquele momento. Entretanto, não deixou Ibaneis seguro da firmeza de princípios de não delatar. PHC, como o ex-executivo financeiro é conhecido no mercado, afirmou que “até onde acompanhou” as operações do Banco Master (em liquidação extrajudicial pelo Banco Central) com o BRB, tudo era tecnicamente defensável – até mesmo a exposição de R$ 12,2 bilhões da instituição estatal do DF por ter comprado títulos sem lastro do banco liderado pelo ex-banqueiro Daniel Vorcaro.

Entre fevereiro e março deste ano, açulado por Ibaneis Rocha e por políticos como o senador Ciro Nogueira (presidente do PP) e o vendedor de seguros Antônio Rueda (presidente do União Brasil), Ibaneis Rocha determinou a Costa que anunciasse ao mercado a compra do Banco Master pelo BRB. Inicialmente, o presidente do banco público era contra a operação. Depois de se reunir com Nogueira e com Rueda passou a ser favorável.

Celina Leão, vice-governadora do DF e candidata a receber o cetro do poder local em abril e ser candidata à reeleição sentada na cadeira que hoje é ocupada por Ibaneis, tinha PHC como um desafeto político. A quem lhe perguntasse e aos empresários locais que lhe pediam a manutenção do presidente do BRB no cargo, Celina dizia que a linha de parceria da instituição pública com empresas privadas não mudaria; porém, Paulo Henrique Costa seria trocado por um nome em quem ela confiasse.

Juiz negou prisão de PHC porque espera delação

Na última quarta-feira, na esteira do escândalo Master/BRB, Ibaneis Rocha anunciou Nelson Souza, funcionário de carreira da Caixa Econômica Federal, como novo presidente e “interventor branco” no Banco Regional de Brasília. Souza foi nome imposto por Celina Leão e levado até ela pelo presidente do PP, o senador piauiense Ciro Nogueira. A vice-governadora é filiado ao partido e integra o grupo político de Nogueira e do ex-presidente da Câmara, Arhur Lira, que por sua vez é quem controla a presidência da Caixa (mesmo integrando o bloco de deputados que fazem oposição sistemática ao governo federal).

Ricardo Augusto Leite, juiz da 10ª Vara Federal de Brasília negou o pedido de prisão de Paulo Henrique Costa solicitado na semana passada pelo Ministério Público e pela Polícia Federal apostando na eficácia de eventual delação dele. Ao negar o pedido de procuradores e policiais o magistrado sabia que PHC já colaborava com a área de fiscalização do BC e tinha fornecido informações consideradas valorosas.

STJ deve demorar a julgar HC: ex-banqueiros na Papuda

Entre a terça-feira, 25 de novembro, e a quarta-feira, 26, o Superior Tribunal de Justiça designará o ministro-relator do pedido de Habeas Corpus dos ex-banqueiros Daniel Vorcaro e Augusto Lima. Os dois dividiram o controle do Banco Master e estiveram à frente das negociações para a venda fraudulenta do controle do banco privado para o BRB. O Tribunal Regional Federal da 1ª Região negou o Habeas Corpus à dupla. O pedido não tem prazo para entrar na pauta do STJ, é possível que haja pedido de liminar imediata, porém se especula que a decisão do Superior Tribunal de Justiça não saia antes do início do recesso judicial marcado para 20 de dezembro. O juiz federal Ricardo Augusto Leite, responsável pelo caso, solicitou a transferência da dupla de ex-banqueiros para o presídio federal da Papuda, em Brasília, para insistir na colaboração dos dois com a Justiça. Na noite da última segunda-feira Vorcaro e outros ex-diretores do Master foram transferidos para o presídio de Guarulhos, na Grande São Paulo. O responsável pela 10ª Vara Federal quer os ex-banqueiros em Brasília, na Papuda.

Esta semana a Polícia Federal entrega à Procuradoria da República o relatório de extração de dados dos celulares e computadores (que espelhavam os celulares) de Vorcaro e de Augusto Lima. Os aparelhos foram apreendidos no cumprimento de mandados de busca efetuados no curso da Operação Compliance Zero, na madrugada da última 3ª feira, 19 de novembro.

Não havia proteção à troca de mensagens entre Vorcaro, Lima e os políticos com os quais costumavam realizar agendas pessoais e de negócios em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Grécia, Reino Unido, França, e Estados Unidos. O senador Ciro Nogueira (PP-PI), o deputado Arthur Lira (PP-AL), o presidente do União Brasil, Antônio Rueda (que é pernambucano de nascimento e vida profissional, mas transferiu o domicílio eleitoral para o Rio de Janeiro e será candidato a deputado federal em território fluminense. Também ocorreram contatos e troca de mensagens com ao menos três governadores – Tarcísio de Freitas, de São Paulo, Ibaneis Rocha, do DF, e Cláudio Castro, do Rio – e com secretárias e assessores que atendiam diretamente esses chefes de Poderes Executivos estaduais.

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Leia também Paulo Nogueira Batista Jr.: "Pluto-, clepto- e kakistocracia"  https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/11/paulo-nogueira-batista-jr-opina.html

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