18 abril 2007

Bom dia, Adalberto Monteiro


Renascer

O encanto fugiu, avoou e se acabou.

Não há o que fazer, nem mesmo ouvir um tango.

No amor o desencanto
Equivale à morte.
Ele expele,
Afasta, finda, sepulta, crema.
Com a mesma força que o encanto
Atrai, aproxima, entrelaça.

Por ora não há nada a fazer
Senão ocupar-me da terrível tarefa
De retirar milhares de camadas de ti
Que se fixaram em mim.
De tanto dormires sobre o meu peito,
A máscara do teu rosto ficou moldada
Por sobre o meu coração.

Quando, novamente, o infortúnio atravessar
Uma faca enferrujada na minha carne
Não terei as tuas mãos para sacá-la
De minhas entranhas.
Quando for lua cheia
Não te terei ao lado,
Para aos berros anunciá-la a ti
Como se estivesse a anunciar a descoberta
De um astro novo.

Inúteis as lágrimas.
Dispensável pôr –me de joelhos.
Se alegre, se saltitante,
À tua frente, como um potro adolescente,
Deixei de te encantar,
Não seria com a espinha dobrada
E os olhos nevados de sal
Que eu faria o teu coração
Novamente bombear
Carinho por mim.

Nada a fazer.
Exceto aprender, com a aurora
A renascer.

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